quinta-feira, 8 de abril de 2010

Setor da construção tem pouco a reclamar


Durante anos, a reclamação geral do setor imobiliário brasileiro era de que o crescimento dos investimentos - apesar dos altos déficits habitacionais - esbarrava na falta de crédito, principalmente para as faixas de baixa e média renda. O segmento popular até era contemplado pontualmente por alguns programas governamentais, ainda que insuficientes, mas a classe média tinha enorme dificuldades com conseguir financiar a casa própria. Números divulgados hoje pela Caixa Econômica Federal (CEF) mostram que hoje há menos motivos para reclamações. Conforme a Caixa, os saques Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para a compra de imóveis registraram aumento de 27,4% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2009

O crescimento foi gerado pelo aquecimento do setor de crédito imobiliário, de acordo com o banco. A alta fez os saques habitacionais superarem os de aposentadoria no total de resgates do FGTS. Os saques para a compra da casa própria representaram 13,6% do total retirado neste ano, enquanto os de aposentadoria ficaram em 12,7%. Em 2009, as aposentadorias corresponderam a 12,2% do total contra 9,8% usados para a habitação.

Há vários fatores que criaram o cenário favorável para estes números. Apesar de ainda estar longe da meta proposta pelo governo, o programa "Minha Casa, Minha Vida" vem dando impulso ao setor, mas o aquecimento, na verdade, é anterior ao projeto. Construtoras e incorporadoras imobiliárias lideraram o boom de IPOs na bolsa em 2007 e 2008 e ficaram capitalizadas como nunca para realizar novos lançamentos. O setor financeiro do País também despertou para o financiamento imobiliário, aumentando o crédito para o setor. Afinal, o crédito para imóveis é um poderoso fidelizador de clientes. São 15, 20 anos de relação especial com o correntista. O setor ainda ganhou o incentivo da isenção do IPI para materiais de construção, beneficiando tanto as empresas da área quanto as construtoras, que puderam comprar produtos mais baratos.
A crise no final de 2008 colocou uma nuvem negra sobre o setor - como em quase todos os segmentos da economia - mas o processo de retomada não foi dos mais lentos. Costuma-se dizer que a construção - dadas as suas características- é o primeiro setor a entrar em crise e o último a se recuperar. Mas, ao que tudo indica, esse cenário tende a continuar positivo. Há enorme demanda a ser atendida, crédito disponível e, principalmente, clientes que parecem confiantes em fazer uma dívida de longo prazo - por uma causa justíssima. A Caixa, de um lado, e os bancos, na outra ponta, ainda mantém certas regras draconianas para liberar os recursos do FGTS e liberar financiamentos. Mas até nisso existe um fator positivo: dificilmente vai ocorrer um subprime local puxado pelo setor imobilário, que foi o detonador da crise norte-americana e que depois virou global.

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