sexta-feira, 9 de abril de 2010

Nouvelle cuisine


A nova Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) divulgada pelo governo traz 47 novas profissões, entre elas a de chefe de cozinha, numa categoria à parte dos tradicionais cozinheiros. Do ponto de vista burocrático, não é uma mudança radical, já que as profissões incluídas no CBO não passam automaticamente pela legalização ou são regulamentadas por lei. A CBO é usada pelas empresas para o preenchimento da carteira de trabalho e para efeitos de Imposto de Renda da Pessoa Física. Também é utilizado em pesquisas do IBGE, registros de mortes e doenças do trabalho pelo Ministério da Saúde e em outras políticas públicas, como seguro-desemprego, qualificação profissional e aprendizagem. Mas a profissão de chefe de cozinha no Brasil realmente merece um destaque diferenciado, como já ocorre em muitos países de tradição culinária mais antiga.

Hoje, graças ao recente glamour, quase ninguém mais se atrave a chamar chef de cozinheiro, ainda que muitas vezes ele seja o segundo ou terceiro no comando de uma cozinha. Aí, valem as variações: soul chef, chefe-executivo etc etc. Ainda existem os chefs das saladas, dos molhos das sobremesas etc etc. Nas cozinhas, como em muitos escritórios de grandes (e outras nem tanto) empresas brasileiras, o que não falta é chefe.

A glamurização da profissão teve uma boa ajuda da mídia. Chefs estrangeiros há muito tinham cartaz no País - alguns merecidos, outros mais ou menos - mas o Brasil já produz suas próprias estrelas da cozinha. Alex Atala, por exemplo - proprietário do D.O.M., na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo da britânia Restaurant- se tornou um nome bem conhecido fora dos circuitos gastronômicos (e de quem pode pagar por uma refeição do seu estrelado restaurante) por conta de sua exposição nos meios de comunicação. Apesar de seus inegáveis méritos na cozinha, Atala é ótimo como fonte para reportagens de qualquer gênero. Em suma, é um cara descolado que sabe dar entrevistas e, inclusive, já teve programa na GNT, canal responsável por apresentar ao Brasil as estrelas britânicas do forno e fogão, Gordon Ramsay, Jamie Oliver e Nigela Lawson, essa com um público masculino amplificado.

É na GNT, aliás, que Claude Troisgos vem brilhando - nos últimos tempos sem a companhia do jornalista Renato Machado. De família ilustríssima no mundo da cozinha francesa, Claude na verdade nem pode mais ser considerado um chef estrangeiro. Ele se declara carioca - ou carrioca - e cria uma polêmica quixotesca ao afirmar que os melhores restaurantes do País estão no Rio. Só por isso, ele já merece a cidadania.

O glamour da profissão já supera até mesmo a tradição machista da alta culinária. Há estrelas consolidadas como a gaúcha Carla Pernambuco, que fez fama com seu restaurante de Higienópolis, em São Paulo, e também hoje está instalada no carioquíssimo Leblon. Em Perdizes/Pompeia, meio fora do eixo das cozinhas famosas em Sampa, há a cozinha internacional da Regina Preta, que trocou a carreira na publicidade pelas panelas de seu bistrô.

Com tudo isso, não será surpresa se, de repente, os pais começarem a dar livros de receita e empurrar os filhos para a cozinha. Ser chef pode alcançar o status que hoje só jogadores de futebol e modelos merecem no imaginário popular da ascensão social a jato no Brasil.

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