quinta-feira, 27 de maio de 2010

Presença de cias do Sul no mercado de ações é baixa

Apenas seis companhias do Sul foram ao mercado captar recursos desde 2004; presença no mercado acionário brasileiro é de 4,6%
27 de maio de 2010

Paulo Fortuna, ESPECIAL PARA O ESTADO - O Estado de S.Paulo

As empresas do Sul do País estão longe de mostrar na bolsa um desempenho compatível com o tamanho da economia da região e o vigor do seu mercado consumidor. As companhias locais tiveram desempenho tímido no processo de expansão do mercado de capitais do País nos últimos anos, ainda que os especialistas do setor apontassem uma série delas com potencial para atrair investidores.

Entre 2004 e 2009, 116 companhias fizeram ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) no Brasil, mas apenas seis tinham sede na Região Sul.

O resultado é que, enquanto o PIB da região do Sul representa 16,2% do nacional, as empresas da região somam 4,9% do valor de mercado das companhias listadas na BM&FBovespa, segundo o Banco Geração Futuro.

"Apenas 13 companhias do Sul listadas em bolsa possuem valor de mercado superior a R$ 1 bilhão", ressalta Wagner Salaverry, sócio-diretor do Banco Geração Futuro. Para ele, a falta de cultura de mercado de capitais entre os empresários locais é determinante para o atual quadro. "O empresário não tem essa referência, faltam exemplos de sucesso de companhias da região na bolsa que estimulem a abertura de capital."

Existem outras questões que inibem a participação no mercado de capitais - e consequentemente na captação de recursos.

"Há muitas empresas familiares cujos proprietários têm dificuldades de abrir mão do controle total e prestar contas ao mercado", afirma Salaverry. Ele destaca que ainda há poucas empresas na região de porte médio - como ocorre em São Paulo - com potencial para captar recursos no mercado e crescer.

O executivo lembra que no Rio Grande do Sul, o ambiente político instável, a falta de políticas de longo prazo e o predomínio da cultura estatizante são fatores de desestímulo aos empreendedores locais.

Esse ambiente adverso, diz, contribuiu para que empresas da região fossem absorvidas por outros grupos nacionais e internacionais que, por sua vez, mudaram o comando e o foco dos investimentos para outras regiões. Ele citou os casos da Ipiranga/Copesul (combustíveis e petroquímica), Avipal/Elegê (alimentos), Tintas Renner (tintas e revestimentos), Frangosul (alimentos), Lojas Arno (varejo), Zambrogna (distribuição de aço), Expresso Mercúrio (transportes) e Trafo (transformadores) entre essas companhias.

Outras empresas, com a administração no Sul, concentraram investimentos em outras partes do Brasil. Ele cita a BRF-Brasil Foods, que investe no Centro-Oeste, Grendene/Azaléia, no Nordeste, e a Weg, com investimentos no Sudeste.

Valorizada. O levantamento do Banco Geração Futuro mostra um desempenho excepcional de algumas companhias locais na bolsa, mas com um participação restrita e perfil atípico em comparação com a média regional. O valor de mercado das empresas do Sul na bolsa é de R$ 98,4 bilhões, mas somente a Gerdau (R$ 30,5 bilhões), do setor siderúrgico, e BRF Foods - Brasil Foods (R$ 19,7 bilhões), da área de alimentos, respondem por mais da metade do montante. A Gerdau, ainda que tenha o poder de decisão centralizado no Rio Grande do Sul, é uma companhia global que hoje tem investimentos mais fora do que dentro do Estado.




sexta-feira, 21 de maio de 2010

O remédio amargo da regulação financeira


A histeria dos mercados - agora, por conta da Europa - tem sido tema frequente deste blog. Na última postagem, descrevemos alguns dos argumentos dados pelo mercado para o sobe e, principalmente, desce das bolsas, inclusive no Brasil. O temor de que o pacote de ajuda financeira à Grecia não seja suficiente para impedir que a crise se alastre para toda a Europa é o fator mais citado, mas nos últimos dias alguns integrantes do mercado vieram com uma explicação adicional um tanto inusitada: há muita preocupação com as medidas tomadas pelo governo da Alemanha para ampliar a regulação do setor financeiro. Agora, como isso pode ser tão ruim é uma explicação que só mesmo o tal mercado, se é que isso é possível, pode oferecer.

Nesta semana, a Alemanha, por meio da agência reguladora do setor de serviço financeiros BaFin, decidiu proibir provisoriamente as vendas a descoberto e swaps de crédito a descoberto de bônus dos governos da zona do euro. A decisão foi unilateral
e, de fato, deu passo concreto na direção das restrições às operações financeiras. Por ser uniteral, a decisão foi riticada por membros do Banco Central Europeu, que avaliam que a chanceler deveria ter consultado outros parceiros da União Europeia.

É plausível acreditar que a chanceler alemã devesse ter consultado seus parceiros de UE, olhando pelo viés da democracia, mas também é razoável acreditar que a liderança
da maior economia da Europa e 3ª do mundo tenha se cansado de esperar por um consenso para aumentar a regulação dos mercados. Afinal, até quando é possível esperar por uma decisão ? É será que tal medida em caráter global vai sair ? Após muita conversa jogada fora, é pouco provável.

Merkel disse que na próxima reunião dos G-20 (o encontro das nações ricas e em desenvolvimento), que acontecerá em junho, vai estimular a introdução de uma taxa internacional para aumentar a rigidez sobre as ações do mercado financeiro. Segundo ela, taxação deve ser aplicada também nos países não atingidos pela crise. A chanceler reafirmou a importância de todos os países mandarem ao mercado "uma mensagem de força" sobre a opção pela maior rigidez regulatória do setor financeiro, pois a população espera medidas efetivas após ver bilhões direcionados ao socorro dos bancos. Em tempo: Merkel é uma política formada na centro-direita alemã e, portanto, não propõe uma regulação mais rígida por ideologia. Trata-se de realismo.

O mercado tem todo o direito de ficar preocupado com medidas que, em última instância, reduzem a sua margem de ação. Mas será que não se trata de um desses remédios amargos, aplicados contra a vontade do paciente, mas fundamental para sua cura ? Ou as lições de dois anos atrás foram esquecidas e o problema verdadeiro são as irresponsabilidades fiscais cometidas por governos como o da Grécia ? Oras...

Em tempo, nesta sexta-feira, após mais de uma semana de quedas, os mercados retomaram o bom humor, com as possibilidades de novas medidas de ajuda ao euro. Curiosamente, a Alemanha é novamente apontada como "culpada". Uma das casas do parlamento alemão aprovou a participação, e repasse de verbas, para o pacote de 750 bilhões de euros, acordado entre União Europeia e FMI para defender o euro. A proposta ainda precisa ser aprovada pelos demais legisladores alemães.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ainda há limitações para voto on line

Paulo Fortuna, para o Valor, de São Paulo
17/05/2010

Eduardo Moraes, sócio da Claritas Administração de Recursos , dificilmente votaria na Assembleia Geral Ordinária (AGO) da Petrobras, realizada no dia 8 de abril na sede da companhia, no centro do Rio de Janeiro. Afinal, a pequena fatia no capital da estatal dos fundos administrados pela Claritas não justificaria todo o trabalho e, principalmente, o custo de participar da reunião. Mas, a facilidade de poder votar pela internet mudou a decisão de Moraes, mesmo sabendo que o seu voto não interferiria em nada no resultado final da assembleia.

Foi a primeira assembleia da Petrobras que proporcionou a votação pela internet. No total, foram 15 investidores que se cadastraram no site da Assembleias Online , incluindo alguns com perfil bem atípico em relação aos frequentadores habituais das votações. "Tivemos até um acionista de Parintins, no Amazonas, que se cadastrou para voltar pela internet", afirma Denys Roman, diretor-executivo do site Assembleias Online.

"Podemos dizer que, no limite, o que definiu a nossa participação na assembleia foi a possibilidade de votar eletronicamente", diz Moraes, da Claritas, lembrando que o fator custo costuma ser decisivo na decisão de participar de uma assembleia, porque isso envolve gastos com a contratação de advogados para preparar as procurações, além de viagens e hospedagens.

Moraes avalia que, após a entrega de toda a documentação que possibilita o castramento no site, o processo de participação é relativamente simples, bastando navegar para acompanhar os itens colocados em votação. De acordo com o edital da assembleia divulgado pela Petrobras, o acionista pode opinar, entre outras questões, se era a favor ou contra a aprovação do orçamento 2010 e o aumento de capital da empresa.

Moraes, porém, ainda vê limitações no sistema nos casos em que o acionista tenha interesse direto em influir nos rumos da assembleia, porque pela internet o acionista pode apenas votar no itens propostos pela companhia. "Se queremos interferir na dinâmica de uma reunião, por exemplo, para indicar um membro do conselho fiscal ou um representante dos minoritários, o ideal é estarmos presentes na assembleia", diz Moraes.

A adesão de 15 acionistas ainda é pequeno se comparado ao universo de investidores da Petrobras. O total de acionistas da empresa em fevereiro de 2010 - último dado disponível - era de aproximadamente 472 mil, dos quais 150 mil estrangeiros vinculados ao programa de ADR negociado nas Bolsas de Buenos Aires e de Nova York. Mas o gerente coordenador de Relações com Investidores da Petrobras, Alexandre Fernandes, avaliou como positivo o volume de adesões, considerando que a assembleia teve 50 participantes no total.

Assembleias no mundo virtual

Acionistas devem votar mais pela web

Paulo Fortuna, para o Valor, de São Paulo
17/05/2010

Investidores: Nova norma, em vigor desde janeiro, visa incentivar a participação dos minoritários

A internet pode se tornar um fator de estímulo à participação dos acionistas nas assembleias das companhias abertas, principalmente em relação aos minoritários, presença em geral rara nas votações das empresas. Desde 2009, algumas empresas implantaram a tecnologia que permite aos investidores participarem das assembleias pela web. Uma vez cadastrados num dos sites autorizados a operar o serviço - uma operação que exige o envio de documentos que comprovem a posição acionária do investidores - os acionistas podem votar os assuntos discutidos na ordem do dia e em alguns casos ter acesso a transmissão ao vivo da reunião física. Para o investidor, o cadastramento no site é feito sem custos. O custo de adesão ao sistema é pago pelas companhias.

A superintendente de relações com empresas da CVM, Elizabeth Machado, avalia que o instrumento é importante para ampliar a participação dos investidores nas decisões das empresas e acredita que o número de companhias que usam o sistema deve crescer, mas diz que também é necessária uma mudança de cultura no mercado para ampliar a participação dos acionistas. "Há outras variáveis que devem ser levadas em consideração, como a concentração da propriedade das ações, que faz com que as decisões ainda fiquem nas mãos dos controladores. Essa mudança vem ocorrendo, mas apenas médio e no longo prazos é que a mudança será mais profunda", afirma a superintendente da CVM, que não tem uma previsão de quanto poderá ser o crescimento da adesão ao sistema.

A CVM analisou dez assembleias eletrônicas e, segundo Elizabeth Machado, não foram observados "grandes desvios", mas foram detectados casos de empresas que não informaram com a antecedência mínima de dez dias ao mercado que estariam disponibilizando aos acionistas a ferramenta da assembleia eletrônica, conforme determina a Instrução Normativa 481 da CVM.
A nova regra entrou em vigor em janeiro de 2010, justamente com o objetivo de incentivar a participação dos investidores minoritários. "Ocorreram casos em que assembleia foi divulgada no site da companhia, mas não no site da CVM", exemplifica Elizabeth Machado.

A tecnologia ainda está na fase de conquista de clientes. Uma das empresas a oferecer o serviço, a Assembleias Online , subsidiária da MZ Consul t, promoveu reuniões eletrônicas de 11 companhias, número pequeno comparando-se com o total das 430 empresas listadas a BM&FBovespa. Mas o site cadastrou cerca de 800 acionistas, número dividido entre investidores institucionais e pessoas físicas, diz Denys Roman, diretor-executivo.

Roman diz que a participação de minoritários no Brasil em assembleias ainda não é uma prática consolidada. Mas, com a adoção da nova tecnologia, ele vê sinais de mudança, com a participação de acionistas que, em condições normais, jamais participariam da votação de uma grande companhia.
O aumento de adesão de minoritários dificilmente poderia mudar o resultado de uma votação, diz ele, mas a empresa pode aproveitar a votação para medir a percepção do mercado sobre a companhia. "Se, de repente, 800 acionistas votaram contra uma determinada aquisição, por exemplo, pode ser que a empresa passe a repensar o negócio, mesmo com a votação final favorável, porque esse número de descontentes poderia influenciar a precificação da companhia no mercado."

A Bematech foi a primeira empresa a usar o sistema da Assembleias Online, em março de 2009. Em seguida vieram BM&FBovespa, BRF Foods , Cielo , Eucatex , Eztec , Ideiasnet , Lupatech , Metalfrio , Triunfo e Petrobras . A adesão mais recente foi da Brasil Telecom , que promoverá no dia 16 de junho a assembleia com acionistas minoritários para a discussão da nova relação de troca proposta pela Oi no processo de incorporação.

O presidente da Financial Investor Relations ( Firb ) , Arleu Aloísio Anharlt, que comanda o Assembleia na Web, também aposta no crescimento deste mercado. O site promoveu assembleias eletrônicas com as companhias Natura e Eternit e, segundo Anhralt, vem conversando com "dezenas de companhias" interessadas em aderir ao sistema. Para ele, as facilidades da nova plataforma podem contribuir para criar um novo cenário que desperte no acionista o interesse em participar das decisões da companhia.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Mercado vive novo surto de transtorno bipolar


A primeira postagem neste blog, do dia 4 de abril, tratava da esquizofrenia irracional dos mercados, inclusive o brasileiro, com o estímulo decisivo dos especialistas tanto em catástrofes irreversíveis, quanto em ciclos positivos duradouros. Durante este período, a palavra crise voltou à tona, novamente por conta do risco da bancarrota da Grécia vir a contaminar o resto da Europa e posteriormente todo o mundo que, novamente, parecia que ia acabar. Isso, na última sexta-feira. Ontem, céu de brigadeiro. No meio, um pacote de 750 bilhões de euros (quase US$ 1 trilhão)anunciado no domingo pela União Europeia para defender o euro e impedir que os problemas da Grécia, e de outros países da região, provoquem uma crise sistêmica. Ou esse pacote é milagroso ou, mais uma vez, os mercados mostraram sua face de transtorno bipolar.

As bolsas de Valores europeias disparam após o anúncio, repetindo o que já havia ocorrido nos mercados asiáticos. As bolsas americanas também foram na onda. E o Brasil, claro, embarcou no trem da alegria, assim como na sexta-feira navegou no barco da morte. A bolsa paulista fechou em alta de 4% e o dólar despencou para R$
R$ 1,77, baixa de 5,41%, a maior queda em 17 meses. A saúde da economia brasileira e das empresas listadas na Bovespa parecem meros detalhes. E, nesta conjuntura, são mesmo.

O que tem a ver a nossa economia com a crise na Europa ? As explicações são as de sempre: em momentos de instabilidade, os investidores internacionais tendem a fugir do risco e ficam mais cautelosos, diminuindo suas posições, inclusive nos mercados emergentes, como o Brasil. Tudo isso é verdade, mas a avaliação da conjuntura dos investidores externos mudou tanto assim por causa do pacote anunciado no domingo que, aliás, ninguém sabe direito como será viabilizado e muito menos se vai surtir efeito ?

Amanhã ou qualquer outro dia, as bolsas podem cair novamente e muitos especialistas vão explicar o seguinte: o mercado têm dúvidas sobre a velocidade de liberação do pacote para a Grécia e teme que o País não resista e sucumba de vez à crise, dando um calote geral. Ou que a ajuda não vai resolver o problema e outros países da região, como Portugal e Irlanda, vão precisar de empréstimos, mostrando que a crise está se espalhando. E, novamente, tudo isso será verdade. Pelo menos até o dia seguinte.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Industrialização agrícola estimula desenvolvimento

Vendas externas de MT saltaram 373% em sete anos

Paulo Fortuna, especial para O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O crescimento da Região Centro-Oeste passa, agora, pelo aumento da verticalização. Um bom exemplo dessa mudança vem de Mato Grosso, que, em 2002, exportou US$ 1,7 bilhão e, no ano passado, fechou as vendas externas com US$ 8,5 bilhões, um salto de 373%. Neste mesmo período, o Produto Interno Bruto (PIB) estadual cresceu de forma expressiva, mas em volume menor, em 75,7%. "A maior diferença no aumento das exportações ocorreu no crescimento dos produtos de maior valor agregado", disse o secretário de Indústria e Comércio do Estado de Mato Grosso, Pedro Nadaf.

O secretário citou, como exemplo, o complexo da Sadia em Lucas de Rio Verde. O total do investimento previsto na ampliação do complexo é de R$ 800 milhões e a capacidade de produção deve chegar a 800 mil frangos/dia e 4 mil frangos/dia.

Nadaf também destacou o crescimento expressivo no Estado da produção de biodiesel. Em 2002, havia apenas uma usina em Mato Grosso e, hoje, há 23 em funcionamento. A produção local é a segunda maior do Brasil, com 24% do total do País, superada apenas pelo Rio Grande do Sul, com 26%. O terceiro colocado, Goiás, com 21%, também fica no Centro-Oeste.

Algodão. Outro setor citado foi o de algodão. A Vicunha anunciou a instalação de uma fábrica em Cuiabá. A escolha da cidade ocorreu por causa da proximidade da principal matéria-prima, já que Mato Grosso é o maior produtor brasileiro de algodão. A indústria, que deve entrar em funcionamento em três anos, terá capacidade para processar 65 mil toneladas de algodão e produzir 72 milhões de metros de tecidos por ano. O investimento previsto é de R$ 350 milhões.

A secretária de Desenvolvimento da Agricultura, Produção, Industrial, Comércio e Turismo de Mato Grosso do Sul, Tereza Cristina Correa da Costa, destacou que o desenvolvimento da economia em seu Estado passa mais pelo incentivo à produtividade do que na expansão da área de plantio.

Ela citou os investimentos feitos para facilitar a atuação dos produtores, como o programas de tratamento fiscal diferenciado, entre os quais o MS Empreendedor. Segundo a secretária, o Estado dispõe para 2010 de R$ 4,2 bilhões do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste.