quarta-feira, 7 de abril de 2010

Daimler/Renault/Nissan: uma união racional

A aliança anunciada hoje entre a alemã Daimler, a francesa Renault e a japonesa Nissan mostra uma grau de racionalidade muito maior do que outros acordos e fusões no setor no passado, que se mostraram desastrosos ao longo do tempo. Mais do que a questão financeira, o que parece ter motivado as empresas foi a questão tecnólogica, que deve propiciar o desenvolvimento de projetos conjuntos.
A própria Daimler tem um casamento problemático em seu histórico, o que pode ajudar a não comentar os mesmos erros. A fusão com a norte-americana Chrysler parecia perfeita, ao menos no papel: os carros Mercedes-Benz, que já tinham a confiança dos consumidores dos EUA, ganhariam uma importante base comercial ao se unir com uma montadora local, o que faria enorme diferença numa disputa de mercado com suas igualmente prestigiadas compatriotas Audi e BMW. A eternamente complicada Chrysler - que na prática foi absorvida pelos alemães - ganharia a possibilidade de conquistar clientes fora da América do Norte, onde estavam concentradas grande parte de suas vendas. Passada a euforia inicial, revelaram-se poucas afinidades entre os partes e pouco foi acrescentado à Daimler e Chrysler. A norte-americana
acabou vendida para Cerberus Capital Management e, após quase sucumbir na crise e receber ajuda do governo dos EUA, acabou sob o guarda-chuva da italiana Fiat.
Já a aliança entre Renault e Nissan- a francesa possui 44,3% do capital da japonesa, que por sua vez tem 15% da montadora europeia - apresentou resultados melhores desde que foi constituída, há 11 anos. Mas não foi indolor. O choque de gestão dado pelo brasileiro Carlos Ghosn foi em grande parte baseado em forte corte de custos - incluindo pessoal - que surpreenderam os japones acostumados com o pleno emprego e revoltou os sindicalistas franceses, ainda mais tendo como principal acionista da Renault o governo da França. Mas as sinergias, de fato, funcionaram.
No Brasil, por exemplo, as marcas dividem fábrica e centro de distribuição, com uma considerável redução de despesas.
Segundo a agência France Presse, a aliança prevê que a Daimler tenha uma participação de 3,1% no capital da Renault e de 3,1% na Nissan. Essas duas empresas receberão participações iguais de 1,55% da montadora alemã.
As maiores oportunidades parecem estar no desenvolvimento de carros pequenos, segmento em que a Daimler tem pouca intimidade, com a honrosa exceção do Smart. Os modelos Smart Fortwo da Daimler e Twingo da Renault que devem chegar ao mercado a partir de 2013 terão uma concepção elaborada em conjunto e depois devem compartilhar o uso de motores. É justamente no desenvolvimento de motores que as montadoras mais gastam em seus projetos. As três empresas esperam obter US$ 5,3 bilhões nos próximos cinco anos como resultado da união. São números otimistas, mas não fora da realidade.





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