quarta-feira, 28 de abril de 2010

Deu a lógica no Copom: veremos o efeito do aperto


Deu a lógica na reunião do Copom: a taxa Selic subiu 0,75 ponto e agora está em 9,5% ao ano. Já abordamos na postagem desta terça-feira o teor da política monetária adotada pelo Banco Central e a ausência de alternativas realistas para o controle da inflação no Brasil. Portanto, agora nos resta acompanhar os efeitos da decisão do BC nos índices inflacionários e,claro, no crescimento econômico. Seguem abaixo alguns indicadores divulgados nesta semana que podem servir de parâmetro do nível do desaquecimento da economia provocado pelo BC nos próximos meses. Sem juízo de valor, é para isso que serve o aumento dos juros básicos e nada indica que a política de aperto monetário vai se encerrar aqui.

1) O Indicador de Nível de Atividade (INA) das indústrias paulistas mostrou elevação de 18% em março ante fevereiro nos dados sem ajuste sazonal, a maior variação para o mês desde 2004. Com ajuste, houve alta de 2,8%. Já no primeiro trimestre, a expansão foi de 18,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, apresentando o melhor desempenho da série histórica, iniciada em junho de 2001. Dos 17 setores analisados pela Fiesp, 11 já estão acima do nível pré-crise. Em fevereiro, eram apenas seis. Na média, a atividade ainda está 0,9% abaixo daquela registrada em setembro de 2008, mas a previsão é que o INA retorne ao mesmo patamar já neste mês. Anteriormente, a Fiesp estimava que isso ocorreria apenas em maio.

2) A indústria brasileira apresentou indicadores de alta em março na comparação com os dois primeiros meses do ano, conforme os das Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O resultado trouxe o nível de emprego industrial no trimestre para o maior patamar desde o terceiro trimestre de 2004. A sondagem mostra que o emprego na indústria alcançou 55,5 pontos no primeiro trimestre, o que representa 2,4 pontos acima do registrado no primeiro trimestre de 2008, antes da crise global se acentuar e atingir o Brasil.

3) As vendas deflacionadas de materiais de construção no Brasil avançaram 25,87% em março na comparação com o mesmo mês do ano passado. Na comparação com fevereiro, a alta foi de 22,67%. No acumulado dos últimos 12 meses, porém, houve queda de 4,89%, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).

4) As vendas reais dos supermercados brasileiros em março cresceram 10,42% na comparação com o mesmo mês de 2009. De acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em relação a fevereiro, a alta foi de 10,16%. Já no trimestre houve elevação de 8,61% ante os três primeiros meses do ano passado.

5) O banco Bradesco fechou o primeiro trimestre de 2010 com o maior lucro da historia entre bancos privados de capital aberto no Brasil, de acordo com pesquisa da Economática. O resultado, de R$ 2,103 bilhões, ficou abaixo somente do lucro do Banco do Brasil nos anos de 2008 e 2006, de R$ 2,347 bilhões e R$ 2,343 bilhões, respectivamente. Tradicionalmente a política de juros alto aceleram os lucros do sistema financeiro do País.

terça-feira, 27 de abril de 2010

BC: Arroz, feijão e alta de juros


Existe alguma maneira de conter a alta da inflação no Brasil sem aumentar juros ? Se é possível, o Brasil ainda não desenvolveu essa tecnologia. Pelo menos é o que parece ao observamos o comportamento do Banco Central - que costuma ser chamado de autoridade monetária por gente do mercado e afins - desde o governo Fernando Henrique e cujas diretrizes básicas da economia foram absorvidas pelo sucessor Lula. Por conta das chamadas pressões inflacionárias, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que tem início hoje e termina amanhã, deve ter como desfecho um aumento dos juros, conforme a aposta geral do mercado. A dúvida parece ser de quanto vai ser a subida da taxa Selic. Pelas expectativas do mercado, o colegiado deve aumentar a taxa Selic (hoje em 8,75% ao ano) em 0,50 ponto ou 0,75 ponto percentual.

Durante muitos anos os jornalistas da Agência Estado realizaram bolões acerca dos resultados das reuniões do Copom, inclusive com opções de viés de alta ou baixa. Não temos estatísticas dos ganhadores ao longo do anos, mas é quase certo que as apostas mais conservadoras (ou seja, com aumentos mais drásticos) foram as vencedoras habituais - no meu caso, só ganhei quando carreguei no aumento. Parece pouco provável que a equipe comandada por Henrique Meirelles- que após idas e vindas colocou em ponto morto sua carreira política - não continue mantendo essa tradição. Afinal, mesmo quando poderia ter apostado mais fortemente numa queda de juros, como no período de retração econômica de 2008 e 2009 - o BC preferiu ser cauteloso. Para alguns, faltou ousadia. Para outros, prevaleceu o bom senso.

Meirelles, alega que as decisões do Copom são baseadas apenas em critérios técnicos e tomadas individualmente pelos diretores que compõem o colegiado. Segundo ele, a definição da taxa de juros não tem relação com motivações políticas, afastando qualquer ilação de que o BC poderia segurar uma aulada nos juros por conta do período eleitoral. Realmente ninguém pode acusar a autoridade monetária de usar a sensibilidade política para administrar os juros. Se isso é bom ou ruim, é outra história.

A favor do atual comando do BC - que supomos estar fazendo o que o governo espera dele - pode-se dizer que, fora da política de juros, poucas e tímidas iniciativas foram feitas ao longo dos últimos anos para conter escaladas inflacionárias. Por exemplo, em alguns setores específicos foram reduzidas (ou até zeradas) alíquotas de importação para aumentar a concorrência no mercado interno, mas nada de efeito muito abrangente. Dessa forma, o BC segue seu papel de "guardião da moeda" com algumas contestações retóricas que caem no vazio por falta de alternativas concretas. Ou os críticos da política monetária do BC, da própria base do governo ou da oposição, oferecem uma proposta alternativa ? Aliás, quais são mesmo as propostas de Serra e Dilma para a inflação e os juros ?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Times brasileiros valem muito pouco



Quem vale mais: Corinthians ou Newclastle ? Tottenham ou Palmeiras ? Vejam bem, a comparação é feita entre dois gigantes do futebol brasileiro e dois times da Inglaterra que nem de longe estão entre os mais poderosos do seu país. Mas as equipes britânicas estão entre as 20 mais ricas do mundo, conforme a lista divulgada pela revista Forbes, enquanto nenhum time brasileiro ou da América Latina figura na relação. Apenas a diferença entre o Primeiro Mundo e as economias em desenvolvimento ? Também, mas não é só isso.
Conforme a Forbes, o o Manchester United foi considerado o clube de futebol mais valioso do mundo, cotado em 1,19 bilhão de libras (1,374 bilhão de euros, R$ 3,2 bilhões). De acordo com a revista, , o atual campeão inglês superou o Real Madrid, o segundo da lista e que está avaliado em 859 milhões de libras (991 milhões de euros, R$2,3 bilhões). O estudo traz a soma do que o clube recebe, incluindo patrocínio, venda de ingressos e a comercialização de artigos esportivos. Não leva em conta, por exemplo, ativos como o estádio e o valor do elenco, ou as cotações das ações do times, nos casos em que são negociadas em bolsa.
Com relação ao patrocínio, há uma explicação razoável para o abismo que separa o primeiro mundo do futebol dos outros. A exposição na camisa num time como o Manchester ou Real Madri tem muito mais visibilidade do que num time brasileiro, mesmo os de alto nível, que dificilmente consegue serem reconhecidos pela grande massa de público global - em geral, são os jogadores brasileiros, e não times, é que são destacados. A lógica vale para o Manchester United, Real, Barcelona (4º na lista) e Baynern (5º), mas chama a atenção que Hamburgo (14º) e Olympique de Marselha (17º), times de impacto um tanto local, se destaquem na questão financeira.
Será que há uma gestão financeira eficente para aproveitar o potencial dos clubes e do futebol brasileiro ? Recentemente, a questão dos direitos de transmissão pela televisão entrou em pauta na eleição do Clube dos 13. Circulou uma versão - não confirmada- de que a Rede Globo gostaria que Kléber Leite (derrotado pelo candidato da situação Fábio Koff) fosse eleito por estar incomodada com o valor pago aos grandes clubes no brasileirão. A Globo estaria, então, interessada em reduzir ainda mais as cifras, já absurdamente inferiores às da Europa ? Ou a emissora está preocupada em não ampliar demais o atual contrato, que hoje está em R$ 1,6 bilhão, na renovação em 2012 ? Há informações que o Clube dos 13 exigiria um aumento de até 60% sobre esses valores.
Ok, vamos combinar que não dá para comparar o campeonato brasileiro com o inglês ou espanhol. Mas, tirando esses dois e, talvez, o italiano (que caiu muito), os outros não se destacam tanto assim. Aliás, mesmo no inglês, quem assistir, digamos Liverpool (6º da lista) e Tottenham (12º), vai ver um belo festival de chutões e correria, bem ao estilo tradicional da futebol bretão.
Presumi-se que os jogos do Brasileiro talvez não interessem ao público internacional. É possível, mas quem é o responsável por vender o Brasileiro lá fora ? Duvido muito que a CBF ou o Clube dos 13 faça um grande esforço neste sentido. Alguém já pensou que seria melhor investir num brasileirão mais consistente e reduzir os campeonatos regionais ou o poder político das federações estaduais vem impedindo a evolução dessa idéia ? Com todo respeito aos chamados times pequenos, mas é difícil justificar longos campeonatos estaduais com agremiações que mal conseguem uma média de público de 5 mil pessoas por partida (para ser otimista).
O valor obtido com patrocínios e licenciamentos (ainda que com a pirataria fora de controle) pelos times brasileiros vem melhorando nos últimos anos, mas uma evolução significativa só vai ocorrer quando as nossas grandes equipes conseguirem mais visibilidade. Mesmo que uma equipe brasileira ganhe uma Libertadores e dispute o Mundial de Clubes, ainda é muito pouco para um grande patrocinador apostar valor igual ao que gastaria numa outra equipe européia, mesmo que mediana, mas cujo campeonato é mostrado com frequencia em redes de TV ao redor do mundo. Não é por acaso que o site do Manchester tem versões em árabe, chinês, japonês e coreano.
E quais são os times brasileiros patrocinados por marcas globais ? A coreanas Sansung (atual patrocinadora do Palmeiras e que já estampou sua marca no Corinthians) e LG (que até recentemente estava na camisa do São Paulo) são exceções e, mesmo assim, é difícil acreditar que tenham uma estratégia mundial com esses patrocínios.
É claro que manter seus principais craques também ajuda uma equipe a manter o interesse da mídia e dos patrocinadores. Mas, sem recursos consistentes, não há muito o que fazer para impedir a saída dos melhores valores. Ou alguém acredita que o Santos vai resistir por muito tempo a vender Neymar e Ganso para a Europa ? A dura realidade dos números diz que não.

Veja abaixo a lista de Forbes. Os times ingleses são o destaque, com seis integrantes, incluindo um, o Newcastle United, que disputou a segundona local ( mas conseguiu o acesso).
1 - Manchester United
2- Real Madrid
3 - Arsenal
4- Barcelona
5- Bayern
6 -Liverpool
7 - AC Milan
8 - Juventus
9 - Chelsea
10 - Inter de Milão
11 - Schalke 04
12 - Tottenham
13 - Lyon
14 - Hamburgo
15 - Roma
16 - Werder Bremen
17 - Olympique de Marselha
18 - Borussia Dortmund
19 - Manchester City
20 - Newcastle United

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Mercado de autos se segura sem ajuda


O mercado brasileiro de automóveis após o fim da redução do IPI continua aquecido, segundo mostram dados divulgados há pouco pela Fenabrave. Levando em consideração apenas os resultados de automóveis e comerciais leves, o mercado movimentou 149,4 mil unidades, volume 13,49% superior em relação à quinzena inicial de março passado e 24,61% acima do apurado no mesmo mês de 2009. Mas, como afirmamos na última postagem, do dia 15, o resultado é sujeito a distorções, já que a Fenabrave mostra os números de emplacamentos do Renavam, o que significa que muitas unidades podem ter sido faturadas pelas montadoras ainda no mês passado, com o tributo reduzido, mas emplacadas nesta primeira quinzena. De qualquer forma, o resultado mostra que a isenção do tributo foi importante no momento de crise, mas não é essencial para o futuro do setor no País.
O mercado automobilístico total - também incluindo, além dos setores acima, os caminhões, ônibus, motocicletas, implementos rodoviários - movimentou 242,3 mil veículos novos na primeira metade de abril, alta de 10% sobre o mesmo período de março e de 24% em relação a primeira metade de abril de 2009. Foram vendidos 120,8 mil automóveis (crescimento de 14,95% em relação a período similar de março), 28,5 mil comerciais leves (+7,69%), 7,3 mil caminhões (+27,98%), 1,1 mil ônibus (queda de 24,69%), 79,3 mil motocicletas (+2,93%) e quase 2,5 mil implementos rodoviários (+15,72%).
As vendas de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus chegaram a 157,9 mil unidades, com crescimentos de 13,67% (ante a quinzena inicial de março) e 25,81% (em comparação com a primeira metade de abril de 2009).



quinta-feira, 15 de abril de 2010

O mercado de autos sem corte do IPI


A Fenabrave deve divulgar nos próximos dias os números de vendas de automóveis na primeira quinzena de abril, o primeiro mês sem o incentivo da redução do Imposto de Produtos Industrializados (IPI) para o setor. Será interessante acompanhar qual o impacto direto do fim do benefício mas, qualquer que seja o resultado, ainda é cedo para traçar um cenário definitivo do mercado automotivo, que veio numa sucessão de recordes, turbinados, em grande parte, pela proximidade da retomada das alíquotas do setor.

Se os números comparados com a primeira quinzena de março mostrarem estabilidade ou uma queda modesta, haverá motivo para comemoração por parte das montadoras e revendedores, que já devem estar preparados para um impacto negativo inicial. Mas o próprio mercado criou alguns mecanismos para reduzir o prejuízo. Algumas montadoras anunciaram a ''prorrogação" da redução do IPI, o que, na maioria dos casos, se tratou da venda de veículos com estoques faturados anteriormente. Ao longo do tempo, não será possível manter essas "promoções" e então o resultado será mais palpável.

No caso de ocorrer uma redução brutal nas vendas, também não há motivo para desespero por parte do setor. Afinal, quem tinha um projeto concreto de comprar um carro novo preferiu executá-lo até o final de março, aproveitando o benefício. Com isso, as de vendas automovéis e comerciais leves no mês passado, de 337.381 mil unidades, apresentaram uma alta de 59,61% ante fevereiro. O crescimento sobre março de 2009 - quando já vigorava o incentivo- foi de 29,27%, mostrando que a confiança do consumidor é bem superior ao período mais agudo da crise internacional. De qualquer forma, o mercado ainda espera que o setor automotivo brasileiro continue a apresentar resultados positivos, como demonstram os investimentos programados para os próximos anos.

Construção: dose extra de incentivo


No último dia 8 de abril, comentamos neste blog o bom desempenho do setor da construção no País, atestado pelo número recorde de saques do FGTS para a compra de imóveis. A conjuntura macroeconômica -mesmo com uma turbulência passageira durante o auge da crise - e os incentivos do governo traçam um cenário altamente favorável para a área. Se o setor não tinha do que reclamarar, agora muito menos. O ministro Guido Mantega anunciou hoje a prorrogação do desconto do IPI para material de construção até 31 de dezembro. A desoneração valeria até final de junho. A forte concentração de encomendas de itens desse setor devido à proximidade do fim da isenção, que estariam elevando os preços dos insumos, foi a justificativa do ministro para prorrogar o benefício.
Mantega destacou que este é o único incentivo que será mantido até o final do ano. O ministro disse ainda que a medida vai incentivar os investimentos no setor e que considera os produtos mais um bem de capital do que de consumo.
A análise do ministro até pode ser correta, mas a lógica não valeria, por exemplo, para caminhões e ônibus ou até carros e motocicletas usados em frotas ? No que se refere a benefícios, portanto, a construção levou vantagem sobre os outros setores da economia. Afinal, não só os vendedores podem se beneficar a redução do imposto, como também as contrutores poderão comprar mais barato.



terça-feira, 13 de abril de 2010

Recall: quando o mercado manda


Está virando rotina: agora foi a montadora francesa Citroën que anunciou o recall dos modelos C4 Pallas, 2009/2010. De acordo com a empresa, o problema é na direção assistida dos veículos, fabricados na Argentina. Em casos extremos, o defeito pode causar acidentes graves. Quem possui um desses modelos com certeza não deve ficar nada contente e tem bons motivos para isso. Afinal, você não paga caro por um carro para depois ter que perder tempo para consertar um defeito que, afinal, a montadora já deveria ter apurado antes de colocar os automóveis na rua. A sua opinião com relação à marca , no mínimo, passa ser menos simpática. E o pior é que quase todas as montadoras também anunciaram recalls recentemente, ou seja, não dá para encarar como um caso isolado. Mas, aborrecimentos à parte, há um lado bem positivo na série de chamados públicos das montadoras para o conserto de defeitos de fabricação.
Não há pesquisa que indique que automóveis dão mais defeito que qualquer outro produto industrializado, mas são raros os casos em que um fabricante admite um problema geral e chame os consumidores em bloco para resolver a questão. Será que as montadoras tratam melhor seus consumidores, já que são itens de alto valor agregado, comparando-se com outros artigos de consumo ? Pode até ser, mas imóveis tendem a custar mais que automóveis e não são incomuns os casos de prédios entregues com defeitos estruturais aos moradores. Comum é a dificuldade de convencer uma construtora a resolver rapidamente o problema, e sem qualquer custo para o comprador. Na realidade, as montadoras vendem um tipo de produto que torna mais delicada a relação delas com seus clientes.
Exemplo: o que aconteceria se. dois meses depois de comprar um computador, ele simplesmente deixasse de funcionar sem motivo aparente, quando estamos trabalhando em algo importante ? Uma enorme irritação, por causa do seu trabalho perdido, mas dificilmente alguém morreria por isso, certo ? Bem, transfira o problema para, digamos, um veículo, comprado há 60 dias, trafegando em alta velocidade numa via expressa paulistana que, do nada, apresentasse problemas graves no momento de frear. É quase certo um acidente e, muito provavelmente, com gravidade. E num veículo que, em tese, deveria funcionar impecavelmente. Há, portanto, uma diferença fundamental, pode-se dizer de vida ou morte.
Para o bem e para o mal, automóveis são produtos tremendamente expostos ao grande público, até por serem símbolos de ascenção social ou status, notadamente em economias emergentes, como o Brasil. Apenas para ficar no ramo automobilístico: não há recalls de caminhões e ônibus, ou apenas ninguém os nota ? Carros são objetos de consumo que, sobretudo se forem novos, projetam para o seu comprador uma imagem de perfeição. "Como pode meu carro zerinho quebrar desse jeito ?", questiona o consumidor, justamente indignado. E as propagandas das montadoras não se cansam de sugerir essa projeção de infabilidade.
Montadoras que postergam a resolução dos defeitos tendem a pagar caro por isso. E não apenas em possíveis processos de clientes. A imagem do veículo e da empresa leva um prejuízo difícil de recuperar. A maior montadora do mundo, a Toyota, não tem sofrido críticas pesadas apenas por conta dos defeitos em uma série de modelos. A companhia japonesa - que cresceu projetando uma imagem de excelência - demorou no início a admitir os problemas com seus carros e depois foi obrigada a se desculpar publicamente.
Um outro caso, agora no Brasil: o banco traseiro do Fox, da Volkswagen, que prendeu dedos dos usuários (!!!) ao ser rebatido. Ocorreram acidentes graves como o do técnico em química Gustavo Funada, dono de um Fox 2004, que teve o seu dedo decepado. O problema teria ocorrido por conta do uso indevido do sistema, mas não havia alerta no manual do proprietário sobre isso. A empresa mudou posteriormente o manual, mas ficou devendo uma explicação melhor a seus clientes.
Claro que o ideal, para os consumidores, seria uma melhoria geral do controle de qualidade das montadoras. Mas o fato é que os carros não ficaram piores. Há 30 anos, os motores quebravam com mais frequencia , as borrocharias viviam cheias, a ferrugem destruia a lataria em pouco tempo e, numa colisão, a possibilidade dos carros se desmacharem e matarem os passageiros era muito maior. Quem mudou, de verdade, foi o mercado e os consumidores. E é assim que deve ser.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Seo Mário Travaglini, o economista



Excepcionalmente, não falaremos agora de Economia. Ou melhor, a história a seguir tem sim um viés econômico, já que o personagem central é economista, formado pela primeira turma da PUC de São Paulo. Trata-se do seo Mário Travaglini, que tem um rica história como jogador e treinador de futebol e praticamente inventou o cargo de supervisor, no Palmeiras, função hoje imprescindível em qualquer clube profissional do mundo. A formação de economista acabou sendo útil quando ocupou cargo gerenciais no futebol. Seo Mário, paulistano do Bom Retiro e hoje morador da Pompeia, foi supervisor da seleção brasileira na Copa de 78, na Argentina, uma competição marcada pela presença dos militares argentinos no poder e jogos polêmicos, principalmente o suspeito Argentina 6 x Peru 0.
A conversa com seo Mário não foi uma entrevista formal e por isso peço sua autorização para relatar um pouco do que ouvi. Na verdade, o papo ocorreu hoje na barbearia do João, na Pompeia, num cenário que poderia muito bem servir ao filme Boleiros, de Ugo Giorgetti. Travaglini foi um bom jogador, mas foi como técnico que ele se destacou na carreira. Sem falsa modéstia, ele ressaltou que foi a sua geração de treinadores - citou Osvaldo Brandão (um pouco mais velho que ele) e Rubens Minelli - como aqueles que deram o alicerce para o atual prestígio - e salários - dos técnicos brasileiros. Justíssima sua análise: a figura dos treinadores era pouco valorizada até então, a ponto de circularem histórias - a maioria, folclóricas - como a de Vicente Feola, técnico campeão da Copa de 1958, dormindo no banco de reservas.
Seo Mário aproveitou o dia de aparar os cabelos para reencontrar um velho conhecido, dentista na Pompeia, e vizinho da barbearia. Pela conversa que ouvi - estava cortando o cabelo com o João - Travaglini é muito amigo da família e conhece o pai do dentista desde a infância (ou juventude). Confesso que fiquei com um ponta de inveja quando eles contaram histórias da antiga várzea paulistana, que incluiram um time chamado Sereno, nome que fazia alusão às preferências boêmias dos seus integrantes. Entre os muitos causos, destaque para as façanhas de Barbirotto (pai do atual treinador de goleiros do Santos), dublê de futebolista e boxeador, que teria nocauteado um goleiro adversário de "uns 5 metros", após um discussão iniciada com a agressão de outro jogador adversário ao roupeiro do Sereno - "manco", lembrou - que teria retido a bola na lateral. João, o barbeiro, ressaltou os "muito cantores" que brilharam no time varzeano. Agostinho dos Santos, que ganhou destaque com o papel principal de "Orfeu do Carnaval", de Marcel Camus - e foi precursor da Bossa Nova, destacou João - foi lembrado com saudade. Amigo de Travaglini, eles tinham a mesma idade (nasceram em 1932), mas o cantor teve um fim trágico: estava no avião da Varig que se espatifou no Aeroporto de Orly, em Paris, em 1973.
Após ter meu cabelo cortado, ainda engatei um final de conversa com Seo Mário sobre a Copa de 78. Ele descreveu o enorme clima de tensão provocado pelo interesse da ditadura militar argentina em vencer a competição em casa. Segundo ele, um fotográfo "japonês/brasileiro" teria desaparecido após ousar fotografar os soldados argentinos que vigiavam a seleção brasileira. Mas a história mais incrível ficou para a noite do jogo em que o Brasil derrotou o Peru por 3x0, já no hotel: Travaglini descreveu o estouro de um explosivo próximo ao hotel. O curioso é que foi o então técnico da Seleção, Cláudio Coutinho, que identificou que "não se tratava de uma bomba comum". Explica-se: Coutinho tinha a patente de capitão do exército, assim como outros integrantes da seleção - o presidente da CBF era o almirante Heleno Nunes. O técnico mandou chamar outros integrantes do staff da seleção - também militares- para averiguar o ocorrido e mandou apagar as luzes do hotel. Seo Mário não sabe até hoje se a explosão possa ter ocorrido em razão de alguma tentativa de intimidação da seleção canarinho, mas o resultado da Copa é sabido: a Argentina acabou ganhando a competição, numa final estranha contra a Holanda que, aliás, preferiu voltar para casa sem receber as homenagens de vice-campeã, lembrou o ex-supervisor da seleção.
Travaglini tem dificuldade em lembrar de outro jogador de sua geração com formação universária. Puxando pela memória, lembrou de um jogador "boa pinta", dentista, que foi jogar no Rio de Janeiro e ganhou um beijo, em pleno campo, da vedete Virginia Lane. Mas os
tempos eram mesmo outros: os pais não gostavam que as filhas namorassem jogadores de futebol, considerados jovens sem futuro . "Hoje as mães jogam as filhas em cima dos jogadores", destaca o vitorioso treinador.
Seo Mario precisava ir embora e eu também tinha compromissos. Não deu tempo de perguntar a ele como conseguiu ser o único técnico paulista a vencer de fato no Rio de Janeiro: ganhou o campeonato brasileiro de 1974 com o Vasco e foi campeão carioca de 1976 com o Fluminense. Ou qual foi a fórmula para, em 1966, desbancar o Santos de Pelé e levar o campeonato paulista de 1966 com o Palmeiras. Ou como foi a conquista da Taça Brasil de 1967 (equivalente ao atual campeonato brasileiro) com o mesmo Palmeiras, tendo como improvável vice o Naútico. Ou ainda sua experiência na Democracria Corintiana nos anos 1980. Com um time recheado de craques como Socrátes, Zenon e Casagrande, que foi lançado por ele no futebol. Sua amizade com Waldemar de Brito, técnico que descobriu Pelé. Ou ainda sua gestão como presidente como presidente do Sindicato Paulista dos Treinadores de Futebol. E mais, muito mais. Fica para as próximas, Seo Mário.

















sexta-feira, 9 de abril de 2010

Nouvelle cuisine


A nova Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) divulgada pelo governo traz 47 novas profissões, entre elas a de chefe de cozinha, numa categoria à parte dos tradicionais cozinheiros. Do ponto de vista burocrático, não é uma mudança radical, já que as profissões incluídas no CBO não passam automaticamente pela legalização ou são regulamentadas por lei. A CBO é usada pelas empresas para o preenchimento da carteira de trabalho e para efeitos de Imposto de Renda da Pessoa Física. Também é utilizado em pesquisas do IBGE, registros de mortes e doenças do trabalho pelo Ministério da Saúde e em outras políticas públicas, como seguro-desemprego, qualificação profissional e aprendizagem. Mas a profissão de chefe de cozinha no Brasil realmente merece um destaque diferenciado, como já ocorre em muitos países de tradição culinária mais antiga.

Hoje, graças ao recente glamour, quase ninguém mais se atrave a chamar chef de cozinheiro, ainda que muitas vezes ele seja o segundo ou terceiro no comando de uma cozinha. Aí, valem as variações: soul chef, chefe-executivo etc etc. Ainda existem os chefs das saladas, dos molhos das sobremesas etc etc. Nas cozinhas, como em muitos escritórios de grandes (e outras nem tanto) empresas brasileiras, o que não falta é chefe.

A glamurização da profissão teve uma boa ajuda da mídia. Chefs estrangeiros há muito tinham cartaz no País - alguns merecidos, outros mais ou menos - mas o Brasil já produz suas próprias estrelas da cozinha. Alex Atala, por exemplo - proprietário do D.O.M., na lista dos 50 melhores restaurantes do mundo da britânia Restaurant- se tornou um nome bem conhecido fora dos circuitos gastronômicos (e de quem pode pagar por uma refeição do seu estrelado restaurante) por conta de sua exposição nos meios de comunicação. Apesar de seus inegáveis méritos na cozinha, Atala é ótimo como fonte para reportagens de qualquer gênero. Em suma, é um cara descolado que sabe dar entrevistas e, inclusive, já teve programa na GNT, canal responsável por apresentar ao Brasil as estrelas britânicas do forno e fogão, Gordon Ramsay, Jamie Oliver e Nigela Lawson, essa com um público masculino amplificado.

É na GNT, aliás, que Claude Troisgos vem brilhando - nos últimos tempos sem a companhia do jornalista Renato Machado. De família ilustríssima no mundo da cozinha francesa, Claude na verdade nem pode mais ser considerado um chef estrangeiro. Ele se declara carioca - ou carrioca - e cria uma polêmica quixotesca ao afirmar que os melhores restaurantes do País estão no Rio. Só por isso, ele já merece a cidadania.

O glamour da profissão já supera até mesmo a tradição machista da alta culinária. Há estrelas consolidadas como a gaúcha Carla Pernambuco, que fez fama com seu restaurante de Higienópolis, em São Paulo, e também hoje está instalada no carioquíssimo Leblon. Em Perdizes/Pompeia, meio fora do eixo das cozinhas famosas em Sampa, há a cozinha internacional da Regina Preta, que trocou a carreira na publicidade pelas panelas de seu bistrô.

Com tudo isso, não será surpresa se, de repente, os pais começarem a dar livros de receita e empurrar os filhos para a cozinha. Ser chef pode alcançar o status que hoje só jogadores de futebol e modelos merecem no imaginário popular da ascensão social a jato no Brasil.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Setor da construção tem pouco a reclamar


Durante anos, a reclamação geral do setor imobiliário brasileiro era de que o crescimento dos investimentos - apesar dos altos déficits habitacionais - esbarrava na falta de crédito, principalmente para as faixas de baixa e média renda. O segmento popular até era contemplado pontualmente por alguns programas governamentais, ainda que insuficientes, mas a classe média tinha enorme dificuldades com conseguir financiar a casa própria. Números divulgados hoje pela Caixa Econômica Federal (CEF) mostram que hoje há menos motivos para reclamações. Conforme a Caixa, os saques Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para a compra de imóveis registraram aumento de 27,4% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2009

O crescimento foi gerado pelo aquecimento do setor de crédito imobiliário, de acordo com o banco. A alta fez os saques habitacionais superarem os de aposentadoria no total de resgates do FGTS. Os saques para a compra da casa própria representaram 13,6% do total retirado neste ano, enquanto os de aposentadoria ficaram em 12,7%. Em 2009, as aposentadorias corresponderam a 12,2% do total contra 9,8% usados para a habitação.

Há vários fatores que criaram o cenário favorável para estes números. Apesar de ainda estar longe da meta proposta pelo governo, o programa "Minha Casa, Minha Vida" vem dando impulso ao setor, mas o aquecimento, na verdade, é anterior ao projeto. Construtoras e incorporadoras imobiliárias lideraram o boom de IPOs na bolsa em 2007 e 2008 e ficaram capitalizadas como nunca para realizar novos lançamentos. O setor financeiro do País também despertou para o financiamento imobiliário, aumentando o crédito para o setor. Afinal, o crédito para imóveis é um poderoso fidelizador de clientes. São 15, 20 anos de relação especial com o correntista. O setor ainda ganhou o incentivo da isenção do IPI para materiais de construção, beneficiando tanto as empresas da área quanto as construtoras, que puderam comprar produtos mais baratos.
A crise no final de 2008 colocou uma nuvem negra sobre o setor - como em quase todos os segmentos da economia - mas o processo de retomada não foi dos mais lentos. Costuma-se dizer que a construção - dadas as suas características- é o primeiro setor a entrar em crise e o último a se recuperar. Mas, ao que tudo indica, esse cenário tende a continuar positivo. Há enorme demanda a ser atendida, crédito disponível e, principalmente, clientes que parecem confiantes em fazer uma dívida de longo prazo - por uma causa justíssima. A Caixa, de um lado, e os bancos, na outra ponta, ainda mantém certas regras draconianas para liberar os recursos do FGTS e liberar financiamentos. Mas até nisso existe um fator positivo: dificilmente vai ocorrer um subprime local puxado pelo setor imobilário, que foi o detonador da crise norte-americana e que depois virou global.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Daimler/Renault/Nissan: uma união racional

A aliança anunciada hoje entre a alemã Daimler, a francesa Renault e a japonesa Nissan mostra uma grau de racionalidade muito maior do que outros acordos e fusões no setor no passado, que se mostraram desastrosos ao longo do tempo. Mais do que a questão financeira, o que parece ter motivado as empresas foi a questão tecnólogica, que deve propiciar o desenvolvimento de projetos conjuntos.
A própria Daimler tem um casamento problemático em seu histórico, o que pode ajudar a não comentar os mesmos erros. A fusão com a norte-americana Chrysler parecia perfeita, ao menos no papel: os carros Mercedes-Benz, que já tinham a confiança dos consumidores dos EUA, ganhariam uma importante base comercial ao se unir com uma montadora local, o que faria enorme diferença numa disputa de mercado com suas igualmente prestigiadas compatriotas Audi e BMW. A eternamente complicada Chrysler - que na prática foi absorvida pelos alemães - ganharia a possibilidade de conquistar clientes fora da América do Norte, onde estavam concentradas grande parte de suas vendas. Passada a euforia inicial, revelaram-se poucas afinidades entre os partes e pouco foi acrescentado à Daimler e Chrysler. A norte-americana
acabou vendida para Cerberus Capital Management e, após quase sucumbir na crise e receber ajuda do governo dos EUA, acabou sob o guarda-chuva da italiana Fiat.
Já a aliança entre Renault e Nissan- a francesa possui 44,3% do capital da japonesa, que por sua vez tem 15% da montadora europeia - apresentou resultados melhores desde que foi constituída, há 11 anos. Mas não foi indolor. O choque de gestão dado pelo brasileiro Carlos Ghosn foi em grande parte baseado em forte corte de custos - incluindo pessoal - que surpreenderam os japones acostumados com o pleno emprego e revoltou os sindicalistas franceses, ainda mais tendo como principal acionista da Renault o governo da França. Mas as sinergias, de fato, funcionaram.
No Brasil, por exemplo, as marcas dividem fábrica e centro de distribuição, com uma considerável redução de despesas.
Segundo a agência France Presse, a aliança prevê que a Daimler tenha uma participação de 3,1% no capital da Renault e de 3,1% na Nissan. Essas duas empresas receberão participações iguais de 1,55% da montadora alemã.
As maiores oportunidades parecem estar no desenvolvimento de carros pequenos, segmento em que a Daimler tem pouca intimidade, com a honrosa exceção do Smart. Os modelos Smart Fortwo da Daimler e Twingo da Renault que devem chegar ao mercado a partir de 2013 terão uma concepção elaborada em conjunto e depois devem compartilhar o uso de motores. É justamente no desenvolvimento de motores que as montadoras mais gastam em seus projetos. As três empresas esperam obter US$ 5,3 bilhões nos próximos cinco anos como resultado da união. São números otimistas, mas não fora da realidade.





terça-feira, 6 de abril de 2010

O capital é daqui, mas a tecnologia não


A indústria automotiva brasileira de capital majoritariamente nacional está renascendo no momento em que os investimentos globais do setor, controlado por grandes grupos multinacionais, ainda estão em compasso de espera por conta dos efeitos da crise. Mas é um modelo bem diferente do que foi adotado no passado por Amaral Gurgel – que investiu em marca e tecnologia próprias – e também do tradicional do setor, em que a decisão de investimentos é tomada única e exclusivamente pelas matrizes das montadoras, muitas vezes levando em consideração muito mais a situação mundial da companhia do que as perspectivas de negócios locais. Os empresários Eduardo Souza Ramos e Carlos Alberto Oliveira, que já eram expressivos no ramo de revendas de veículos, investiram em fábricas locais da Mitisubishi e Hyundai, sem a participação direta das matrizes das fabricantes.

A MMC de Souza Ramos fabrica veículos Mitsubishi em Catalão, Goiás, e se prepara para expandir seus negócios ao se associar com um grande investidor, o BTG-Pactual. Os planos são de aumentar a linha de produção e consequentemente a participação da marca japonesa no País. Ao anunciar a associação no mês passado, a empresa projetou investir R$ 800 milhões nos próximos cinco anos no Brasil para produzir localmente outros modelos, como a Pajero Dakar e o Lancer. Hoje são produzidos em Catalão os modelos L200 Triton, L200 Outdoor, Pajero TR4 Flex e Pajero Sport, além dos veículos da linha Competition.

O BTG também se associou com Souza Ramos na Suzuki Veículos do Brasil, que é apenas uma representante da marca do Japão no País, sem vínculos diretor com a matriz. O plano inicial é aumentar as vendas de veículos com a expansão das concesssionárias, mas já foi anunciado um projeto de fabricar os carros no País, num acordo semelhante ao da Mitsubishi, que apenas transfere tecnologia. É incomum um grupo de private equity como o BTG investir neste setor, o que ajuda comprovar as boas perspectivas que o mercado vê no crescimento da indústria automotiva do Brasil, impulsionada por seguidos recordes de vendas.

O Grupo Caoa, de Carlos Alberto de Oliveira, produz o utilitário HR em sua fábrica de Goiás, em Anápolis, e se prepara para colocar no mercado o SUV Tucson brasileiro. Nos anúncios do Tucson, a Caoa vem ressaltando a fabricação no Brasil, embora os modelos à venda ainda sejam coreanos. É uma forma de dar ainda mais confiabilidade à marca. Tanto a Hyundai quanto a Suzuki já entraram e saíram do mercado brasileiro anteriormente - com outras administrações -
e não deixaram impressões muito boas junto aos clientes da época.

A coreana Hyundai, entretanto, não pretende deixar o promissor mercado brasileiro somente com seu parceiro. Tanto que vai investir US$ 600 milhões numa nova fábrica em Piracibaba. no interior paulista, que deve começar a operar em 2012.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A maior crise desde 1929 ?

A crise global de 2008 foi classificada por uma série de sábios econômicos como a pior desde 1929, e não foram poucos que previram que seus efeitos poderiam durar anos, com consequências nefastas sobre as economias da maioria dos países, Brasil inclusive. Qualquer previsão contrária, foi tratada com descrédito, assim como as que alertaram para a crise antes de sua explosão.

Bem, os fatos mostram que a histeria não costuma ser boa analista econômica, embora faça parte da Humanidade, economistas e jornalistas econômicos inclusos. O quadro dos mercados hoje é um bom exemplo. Os investidores saíram às compras em quase todo o mundo - os mercados europeus não funcionaram - repercutindo uma sequência de bons números da economia americana. A bolsa brasileira pegou carona na onda e emendou o seu sexto dia consecutivo com valorização das ações, batendo o seu nível de preços mais alto desde 2 de junho de 2008, data anterior à pior fase da crise mundial. E nesse patamar, a Bolsa brasileira se encontra a um salto de apenas 3,1% de seu patamar recorde.

O Ibovespa fechou com alta 0,22%. aos 71.289 pontos. O nível histórico desse índice é de 73.516 pontos, registrado em 20 de maio de 2008, pouco depois do país ter sido alçado ao nível de "grau de investimento". O giro financeiro foi de R$ 5,27 bilhões. Nos EUA, a Bolsa de Nova York subiu 0,43%.

Mas os problemas que geraram a crise de 2008 - com os EUA à frente - continuam no mesmo lugar e os dados ainda não são consistentes sobre uma recuperação. A União Européia vai mesmo ter que ajudar a Grécia, mas não se sabe que pode ser o próximo a precisar de socorro.

E o Brasil ? A economia brasileira parece que não sofrerá grandes solavancos neste ano eleitoral - alguém arriscaria uma análise sobre diferenças radicais nos programas econômicos de Dilma e Serra ? Se petróleo e minério continuarem em alta, dificilmente a bolsa brasileira, por conta do peso de Petrobras e Vale, não permanecerá num patamar positivo.

De qualquer forma, não há nada no cenário que lembre os terríveis anos 30 que precederam a quebra das bolsas em 29. O momento de histeria foi-se, mas seria bom para todo mundo enterrar a euforia ilimitada que assolou os mercados até metade de 2008. Parece que foi ontem. E foi mesmo.