terça-feira, 27 de abril de 2010

BC: Arroz, feijão e alta de juros


Existe alguma maneira de conter a alta da inflação no Brasil sem aumentar juros ? Se é possível, o Brasil ainda não desenvolveu essa tecnologia. Pelo menos é o que parece ao observamos o comportamento do Banco Central - que costuma ser chamado de autoridade monetária por gente do mercado e afins - desde o governo Fernando Henrique e cujas diretrizes básicas da economia foram absorvidas pelo sucessor Lula. Por conta das chamadas pressões inflacionárias, a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que tem início hoje e termina amanhã, deve ter como desfecho um aumento dos juros, conforme a aposta geral do mercado. A dúvida parece ser de quanto vai ser a subida da taxa Selic. Pelas expectativas do mercado, o colegiado deve aumentar a taxa Selic (hoje em 8,75% ao ano) em 0,50 ponto ou 0,75 ponto percentual.

Durante muitos anos os jornalistas da Agência Estado realizaram bolões acerca dos resultados das reuniões do Copom, inclusive com opções de viés de alta ou baixa. Não temos estatísticas dos ganhadores ao longo do anos, mas é quase certo que as apostas mais conservadoras (ou seja, com aumentos mais drásticos) foram as vencedoras habituais - no meu caso, só ganhei quando carreguei no aumento. Parece pouco provável que a equipe comandada por Henrique Meirelles- que após idas e vindas colocou em ponto morto sua carreira política - não continue mantendo essa tradição. Afinal, mesmo quando poderia ter apostado mais fortemente numa queda de juros, como no período de retração econômica de 2008 e 2009 - o BC preferiu ser cauteloso. Para alguns, faltou ousadia. Para outros, prevaleceu o bom senso.

Meirelles, alega que as decisões do Copom são baseadas apenas em critérios técnicos e tomadas individualmente pelos diretores que compõem o colegiado. Segundo ele, a definição da taxa de juros não tem relação com motivações políticas, afastando qualquer ilação de que o BC poderia segurar uma aulada nos juros por conta do período eleitoral. Realmente ninguém pode acusar a autoridade monetária de usar a sensibilidade política para administrar os juros. Se isso é bom ou ruim, é outra história.

A favor do atual comando do BC - que supomos estar fazendo o que o governo espera dele - pode-se dizer que, fora da política de juros, poucas e tímidas iniciativas foram feitas ao longo dos últimos anos para conter escaladas inflacionárias. Por exemplo, em alguns setores específicos foram reduzidas (ou até zeradas) alíquotas de importação para aumentar a concorrência no mercado interno, mas nada de efeito muito abrangente. Dessa forma, o BC segue seu papel de "guardião da moeda" com algumas contestações retóricas que caem no vazio por falta de alternativas concretas. Ou os críticos da política monetária do BC, da própria base do governo ou da oposição, oferecem uma proposta alternativa ? Aliás, quais são mesmo as propostas de Serra e Dilma para a inflação e os juros ?

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