segunda-feira, 6 de junho de 2011

Recuperação do etanol passa por governo e indústria

Por Paulo Fortuna
Para o Valor, de São Paulo

A recuperação dos níveis de competitividade do setor de etanol do Brasil passa tanto pelo governo quanto pela esfera privada. A atual política de combustíveis no país, com a contenção dos preços da gasolina, é considerado um fator de desestímulo à produção, mas especialistas e dirigentes da área avaliam que o setor público poderia adotar medidas para retomar a atratividade do etanol. Investimentos na melhoria da infra-estrutura e em inovações tecnológicas dentro e fora da usinas também podem ajudar a criar o cenário para um novo ciclo de expansão.

O presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Marcos Jank, lembra que, entre 2000 e 2008 a produção de cana-de-açúcar cresceu 10,3% ao ano. Mas, a partir daí, os investimentos foram concentrados na compra de empresas em dificuldades e não na construção de novas usinas.
Com isso, o crescimento do setor caiu para 3% ao ano. O grande desafio, conforme Jank, é retomar os níveis de aumento da produção de forma regular e sustentável, se distanciando da volatilidade que marcou o setor.

Jank acrescenta que o problema central do aumento da produção de etanol não reside no preço do açúcar no mercado internacional, embora nos últimos dois anos tenha sido mais lucrativo processar esse produto. "A flexibilidade das usinas para optar pelo açúcar se restringe a apenas 6% da produção", lembra ele. "A grande questão está na falta de investimentos para a produção dos dois produtos derivados da cana", acrescenta o executivo,

Jank avalia que a política de administração de preços da gasolina mantida pela Petrobras traz uma incerteza que desestimula os investimentos. "O preço da gasolina no Brasil é mantido no mesmo patamar desde 2005", afirma. Segundo ele, poderia haver uma harmonização dos impostos federais e estaduais com alíquota reduzida para o etanol.

O pesquisador do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Thales Viegas, defende a adoção de uma política pública por parte do governo federal que estimule o aumento da área plantada de cara-de-açúcar e a produção de etanol na usinas. "A regulação não resolve o problema sozinha. O governo tem que oferecer mais instrumentos, como linhas de crédito do BNDES", diz Viegas.

A analista sênior da área de energia consultoria Frost & Sullivan, Juliana Passadore, ressalta que um dos principais entraves à expansão do mercado de açúcar e etanol no Brasil é infra-estrutura do escoamento de produção. Mas, segundo ela, há uma solução em curso, como o alcoolduto que interligará os principais centro produtores (Goiás) até o porto de Santos (SP). O empreendimento, com custo aproximado de US$ 2 bilhões, terá extensão de 1.700 km e deve estar pronto em 2013.

O professor Gilberto Jannuzzi, coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (NIPE) da Unicamp, defende que o planejamento para o área de etanol no Brasil seja capitaneado pelo setor público e que leva em consideração não apenas a questão do abastecimento, mas de toda a política de transporte. Ele avalia que seria mais viável estimular o aumento do uso do etanol no transporte público do que pensar somente em resolver a questão do abastecimento das frotas de automóveis.