segunda-feira, 28 de junho de 2010

Boas oportunidades para o país produzir games para celulares

Paulo Fortuna
Para o Valor, de São Paulo
28/06/2010

O desenvolvimento de games para celulares está se tornando o segmento mais promissor para as empresas brasileiras da área de jogos eletrônicos, que já conseguiram emplacar alguns sucessos de vendas no mercado internacional.
Em comparação com outros tipos de jogos, o desenvolvimento de games para telefonia móvel é considerado rápido, barato e de fácil distribuição, um esquema que favorece empresas menores e mais ágeis, o perfil da maioria das jovens companhias nacionais.

Atualmente, cerca de 30% dos jogos desenvolvidos no Brasil se destinam especificamente ao mercado de celulares, afirma André Penha, vice-presidente da Abragames (a entidade que reúne as empresas do setor) e sócio proprietário da Tec Toy Digital, braço do grupo TecToy, que atua em várias frentes na área de jogos e produtos eletrônicos. Penha diz que tendência é de crescimento do mercado, tanto na participação do setor de jogos quanto no lançamento de produtos. De acordo com ele, a contínua melhoria da tecnologia dos celulares incentiva as vendas e o desenvolvimento de games, embora isso também encarece os custos.

Penha ressalta que os desenvolvedores brasileiros de games para celulares ficaram livres até agora, por razões tecnológicas, das ações da pirataria, o que possibilita que eles consigam lançar seus produtos no País e, dessa forma, possam se preparar para alcançar o mercado externo, uma experiência que faz falta em outras áreas de jogos no Brasil. Na área de games para celular e PCs, ainda é grande a quantidade de jogos de sucesso copiados e vendidos de forma ilegal.

Mas o executivo alerta que as empresas nacionais devem se apressar para não perder a chance de entrar no mercado internacional, que tende a ficar mais disputado, já que os grandes produtores globais de jogos começam se interessar pela área de celulares, com o lançamento de games com versões para todos os tipos de plataformas. “A hora de entrar neste mercado é agora, porque esse jogo vai ficar cada vez mais disputado”, ressalta Penha.

A Tec Toy Digital vem emplacando deste o ano passado no mercado internacional o jogo “PoChikenPo”, baseado no desenho brasileiro “Galinha Pintadinha”. O game é dos pouco jogos infantis disponíveis para iPhone e ipod Touch. A empresa também investiu numa área nova no País: o desenvolvimento de um game baseado num álbum musical. O Chiaroscuro - o Jogo, da cantora baiana Pitty, foi lançado simultaneamente com o disco em 2009 e disponibilizado por todas as operadoras que atuam no mercado móvel no Brasil.

A empresa MusiGames, de Recife, também conseguiu abriu espaço no disputado mercado global de jogos com produtos voltados para as plataformas do iPhone e iPod Touch, da Apple. “Passamos o ano de 2008 estudando o mercado de jogos e tomamos a decisão pragmática de desenvolver jogos para a plataforma da Apple, que muito mais aberta às novas companhias. As grandes empresas do setor de jogos em geral preferem seus próprios desenvolvedores”, diz o diretor executivo da MusiGames, Américo Amorim.

A companhia lançou em abril último uma versão para iPad do seu jogo Drum’s Challenge, no qual o jogador simula um baterista iniciante que desafia os melhores músicos em duelos em vários estilos. O game rapidamente foi para o primeiro lugar da lista dos mais vendidos para iPad na categoria de games musicais nos EUA e Canadá e continua entre os mais comercializados na AppStore. O jogo custa US$ 1,99. A MusiGames pretende lançar colocar seis novos jogos este ano no mercado, sendo três totalmente novos e os demais de novas versões de games já existentes.

A carioca Nano Games entrou no mercado há três anos desenvolvendo produtos de games para celulares da forma tradicional, fornecendo os jogos para as operadoras de telefonia mas, em busca de maior rentabilidade, começou a apostar na área de advergames, que une jogos e publicidade. “A remuneração é muito baixa no modelo tradicional de negócios. Num jogo vendido por R$ 10,00 pela operadora, nós ficávamos, somando todos os custos, com menos de R$ 1,00”, conta Peter Hansen, um dos sócios da empresa. Os advergames são encomendados pelas companhias que pretender divulgar seus produtos e a Nano é remunerada diretamente por este trabalho. A Nano desenvolveu recentemente jogos para a Unilever – o Lux Gota de Beleza e o Seda Puzzle – que podem ser baixados para o celular gratuitamente.

Hansen diz que a prioridade da empresa é desenvolver produtos para seus clientes que possam ser usados pelos celulares mais simples – a grande maioria de planos pré-pagos – que, lembra ele, ainda representam 93% do aparelhos em uso no Brasil. “Não adianta criar produtos apenas para smartphone e iPod se a maior parte dos usuário ainda têm aparelhos mais baratos”, explica Hansen.

A Meantime, também de Recife, já desenvolveu jogos em seis idiomas diferentes - - incluindo uma versão para a Austrália do game derivado do programa Big Brother - e também resolveu implantar um modelo de negócios voltado para campanhas de publicidade que pretendam usar advergames para celular. Já foram lançadas campanhas com a Arena Digital Kellogs, Campeonato de Digitação SMS da LG, Rexona Invisible, AXE e Brilux.

O potencial da área de games para celulares fez com que a Saga, rede de ensino da área de computação gráfica, decidisse abrir um curso específico para a formação de profissionais da área.“O desenvolvimento de jogos para celulares é rápido, barato e de fácil distribuição”, explica Alessandro Bonfim, sócio diretor da Sagra, sobre o crescente interesse do mercado por esta área. A primeira turma começa no final do ano, em São Paulo, mas ele já pensa em levar o curso para outras unidades do grupo, que também atua em Brasília, Salvador e Recife.

TV móvel avança com jogos da Copa

Paulo Fortuna,
Para o Valor, de São Paulo
28/06/2010

A Copa do Mundo foi o impulso que faltava ao mercado de TV móvel nos celulares. A combinação do interesse em assistir os jogos do mundial, o aumento do número de modelos disponíveis que oferecem essa tecnologia e a expansão da TV digital com canais abertos provocou um aumento expressivo nas vendas dos aparelhos nos últimos meses. As empresas do setor apostam que o mercado continuará aquecido após a disputa e que haverá mais interesse em comprar outros produtos de entretenimento no celular.

De olho no público do mundial, a operadora de celular Vivo ampliou o seu portfólio de aparelhos que transmitem TV digital aberta nos meses que antecederam a competição, conta o diretor de Desenvolvimento de Terminais da companhia, Hilton Mendes. “Com exceção dos jogos do Brasil, em que as pessoas são dispensadas do trabalho, sabíamos que muitas partidas seriam disputadas no horário de expediente e a incorporação do sistema de TV móvel poderia contar na hora de troca do aparelho. Por isso, fizemos um trabalho antecipado e lançamos novos modelos entre abril e maio” diz Mendes.

O executivo calcula que as vendas deste tipo de aparelho tenham crescido 150% em maio e junho, em relação ao mesmo período do ano passado. Embora destaque a importância da Copa, ele ressalta que hoje há mais ofertas de modelos no mercado, com preços que vêm caindo, e que mais cidades no País recebem hoje o sinal digital da TV aberta. “É natural que haja uma expansão do conceito de TV móvel. A Copa do Mundo foi apenas a cereja do bolo”, afirma Mendes.

Na operadora Claro, as vendas subiram de aparelho com TV móvel subiram 83% por conta do interesse dos consumidores em assistir o mundial da África do Sul no celular, informa a diretora de Novos Negócios da operadora, Fiamma Zarife. Segundo a executiva, competição fez dobrar o acesso dos canais Band e Esporte Interativo, comercializados no pacote “Minha TV” oferecido pela Claro, que inclui canais de TV fechados.

As transmissões de TV digital aberta pelo celular são gratuitas e portanto, não geram resultados financeiros com tráfego de dados para operadoras, mas a diretora acredita que atender esses usuários pode ser estratégico para a companhia . “O consumidor pode conhecer a tecnologia da TV móvel através dos canais abertos e gratuitos e depois se interessar em adquirir uma programação mais exclusiva”, diz Fiamma.

Também impulsionadas pelo mundial da África, as vendas de celulares com TV móvel cresceram três vezes entre maio e junho sobre o mesmo período do ano passado no Grupo Pão de Açúcar. “Os resultados das vendas superaram as nossas expectativas”, diz Fábio Bagarollo executivo responsável pela área de compras da área de telefonia celular do grupo, que engloba Extra, Extra Eletro e Ponto Frio.

Ele também acredita as vendas continuarão a crescer mesmo depois de passada a disputa no continente africano, inclusive por conta da queda no custo de aquisição dos aparelhos. O executivo lembra que os primeiros celulares que chegaram ao mercado brasileiro custavam ao redor de R$ 1 mil e hoje há modelos vendidos pelo Extra que custam R$ 399.
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A Copa do Mundo acabou por antecipar o lançamento no Brasil do Tivizen , comercializado pela EUTV, que permite aos usuários do iphone,, iPad e iPod Touch, fabricados pela Apple, recebam os sinais da TV aberta digital em seus aparelhos. “Nossa meta inicial era colocar o produto no mercado em setembro, mas resolvemos acelerar os planos para fazer o lançamento no início de junho”, diz o presidente da EUTV, Yon Moreira Junior. O aparelho, desenvolvido em parceira com a empresa coreana Valups, capta sinal de TV via Wi-Fi e retransmite para os celulares. A EUTV investiu R$ 1,5 milhão no sistema e pretende vender 50 mil aparelhos até o final de 2010.

Em julho ele pretende lançar a versão do produto para os aparelhos Blackberry, fabricados pela Research in Motion (RIM), e no 3º trimestre do ano o plano é o aparelho, que custa R$ 499,00, possa ser usado em celulares que utilizam a plataforma Android, desenvolvidos pela Google.

As oportunidades na área TV móvel no Brasil também aparecem na venda de canais por assinatura e publicidade dirigida. A M1nd tem hoje um base de 400 mil assinantes fixos das três operadoras que usam a sua plataforma de TV móvel com canais para assinatura – Oi, TIM e Brasil Telecom. O presidente da empresa, Alberto Magno, afirma que o número de usuários deve dar um salto considerável após o fechamento de um contrato com “um grande empresa do setor”, que ele não revela. “Pretendemos fechar o ano com 2 milhões de usuários”, afirma o executivo.

Magno também aposta no crescimento da publicidade dirigida na TV móvel dos celulares. O executivo destaca que as propagandas para celulares permitem que os anunciantes tenham controle exato do número de clientes atingidos, o que não acontece, por exemplo, na TV, onde o resultado é feito por amostragem. A M1nd promoveu a divulgação da nova propaganda da Nike voltada para a Copa do Mundo no dia 19 de maio, um dia antes estrear na televisão. Segundo Magno, a Nike selecionou 80 mil usuários no Brasil, Argentina e Itália para apresentar a campanha.

Para o diretor de Novos Negócios da Oi, Luiz Henrique de Castro Lima, a TV móvel abre grandes oportunidades para a convergência dos serviços “quadri-play” -internet banda larga, telefonia móvel e fixa e TV por assinatura – oferecidos pela operadora. Lima diz que uma das possibilidades em estudo que é usuário possa receber “pílulas” de programas no celular, que posteriormente serão exibidas pelos canais de TV pagos. O executivo avalia que o momento é propício para a expansão de serviços com maior valor agregado – com fatores como o aumento de renda da população – mas fator escala ainda será decisivo na hora de colocar novos produtos no mercado.

O sistema digital de TV tem como vantagem uma recepção de imagem superior ao do sinal analógico, mas é limitado pelo número de cidades que podem captam a transmissão. As coreanas LG e a Sansung são as marcas que têm o maior número de modelos com transmissão digital de TV integrada no mercado brasileiro. A chinesa ZTE estreou no Brasil inicialmente com celulares de transmissão analógica, mas em maio último apresentou um modelo com TV digital. A STI (Semp Toshiba) é outra fabricante que entrou recentemente neste segmento. Os preços dos aparelhos (que podem sofrer variação conforme os planos de comercialização das operadoras) variam de R$ 399 a R$ 899, dependendo da tecnologia disponível. Alguns modelos permitem, por exemplo, a gravação de programas.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sudeste vai crescer mais do que a média do Brasil

Obras para os principais eventos esportivos, em 2014 e 2016, e para exploração de pré-sal concentram os investimentos na região
11 de junho de 2010

Paulo Fortuna - Especial para O Estado de S.Paulo

A Região Sudeste será o principal polo de atração de investimentos do País nos próximos anos, principalmente num cenário de desenvolvimento sustentável. Com o pré-sal e as obras necessárias para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada no Rio em 2016, a perspectiva é que a região apresente, já a partir deste ano, níveis de crescimento acima da média nacional.

Estudo da Tendências Consultoria aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) da Região Sudeste crescerá 0,6% acima da média nacional em 2010 e, entre 2011 e 2014, o aumento médio anual será de 0,3%. A Tendências estima ainda que a apenas a Copa e a Olimpíada devam causar um impacto de 0,35% ao ano no PIB da região entre 2011 e 2016, ante 0,2% do total nacional.

"Os investimentos da Olimpíada estarão centralizados no Rio e as três principais sedes da Copa ficam no Sudeste", diz Adriano Pitoli, chefe da área setorial da Tendências. Ele lembra ainda que os Estados da Região são especializados justamente nos setores que devem puxar o crescimento do País.

Além disso, como lembra Eduardo Amaral Haddad, presidente da Associação Brasileira de Estudos Regionais (Aber) e professor titular da FEA/USP, a região se destaca pela qualidade da mão de obra, da infraestrutura de transporte e da cadeia produtiva já desenvolvida - essenciais para os setores como, por exemplo, produção de máquinas e equipamentos e montadoras de veículos - e, finalmente, pela proximidade dos principais mercados consumidores.

Enquanto há vantagens no Sudeste, há fatores limitadores nas demais regiões, afirma o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados.

O crescimento recente do Nordeste foi impulsionado pela demanda, que aumentou em razão dos programas de transferência de renda do governo federal, como o bolsa-família e o aumento do salário mínimo. O problema, segundo ele, é que essas transferências devem ser reduzidas por falta de recursos, em razão do aumento de gastos do Tesouro e da Previdência. "O Nordeste vai continuar a crescer, mas o grosso do salto já aconteceu."

O crescimento do Centro-Oeste, diz Mendonça de Barros, esbarra em problemas de infraestrutura; o Norte ainda tenta se equilibrar entre desenvolvimento e preservação; e o Sul segue com pouco dinamismo.

Pré-sal

Já o Sudeste, argumenta o economista, tem uma série de investimentos já contratados. A exploração do pré-sal é prioridade para a Petrobrás. Nos próximos 10 anos, a Petrobrás estima um investimento de US$ 110 bilhões nas áreas do pré-sal, localizadas no Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. Importante destacar também que a produção de equipamentos está concentrada na região.

A economia do Espírito Santo pode sofrer mudança de perfil com os investimentos do pré-sal, aponta Haddad, da Aber. Segundo ele, o ciclo de exploração de petróleo deve reduzir a concentração econômica existente hoje num grupo restrito de grandes empresas, principalmente do setor de alimentos.

O economista Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios, lista vários projetos para a área de infraestrutura que, nos próximos anos, devem movimentar os negócios. Ele destaca a alça leste do Rodoanel, o terceiro terminal do Aeroporto de Cumbica, a ampliação de Viracopos e investimentos no Porto de São Sebastião e na Refinaria de Paulínia. "Ainda são necessários diversos investimentos no setor, mesmo porque o custo de logística ainda é muito alto e a infraestrutura existente está sobrecarregada."

Leite também vê o agronegócio como fator de crescimento e investimentos. A fabricação de caminhões e equipamentos agrícolas, concentrada em Minas Gerais e São Paulo, deve ganhar impulso nos próximos anos, com a demanda crescente. A Mercedes-Benz anunciou recentemente uma fábrica de caminhões em Juiz de Fora (MG), projetada inicialmente para automóveis.

Criativa

Na avaliação dos especialistas, o desenvolvimento da região Sudeste nos próximos terá uma contribuição importante dos serviços financeiros e do suporte de negócios, além da chamada economia criativa, em especial no Rio de Janeiro e São Paulo, que inclui segmentos como cinema, publicidade, design, moda e atividades. “São atividades que agregam alto valor adicionado, têm razoável grau de inovação e empregam um grande número de pessoas”, destaca o economista José Roberto Mendonça de Barros.

Especificamente em São Paulo, Mendonça de Barros ressalta a expansão do crescimento do turismo de negócios, além da área médica, que inclui não só os hospitais, como a indústria de equipamentos hospitalares e companhias farmacêuticas.

A capital paulista tende a se tornar um polo latino-americano no setor, acrescenta Alcides Leite. “Com certeza, a Bovespa estará entre a cinco maiores bolsas do mundo e São Paulo será o centro financeiro da América Latina”, afirma Leite. Por conta desse fator, ele acha que São Paulo ainda terá que receber mais investimentos em infra-estrutura de telecomunicações, principalmente em internet banda larga

Potencial de consumo aumenta mais no interior, aponta estudo

Levantamento da IPC Target mostra que, no Sudeste, são as faixas de renda mais alta que cresceram mais
11 de junho de 2010

Paulo Fortuna - Especial para O Estado de S.Paulo

O crescimento do potencial de consumo da população do interior da Região Sudeste superou a média nacional no período compreendido entre os anos de 2005 e 2010, conforme estudo da empresa IPC Target, divulgado no Fórum Estadão Regiões / Sudeste. No interior do Sudeste, cresceu 95,6%, enquanto nas áreas metropolitanas da região, o ritmo de aumento foi mais modesto, de 89%. Mesmo no restante País, o potencial de consumo teve alta de 95,5%.

O sócio e diretor geral da IPC Target, Marcos Pazzini, avalia que a diferença de comportamento na taxa de crescimento entre as áreas metropolitanas e o interior do Sudeste é causada principalmente pela tendência de migração dos investimentos, inclusive do setor industrial.

Ele lembra que os custos tendem a ser mais altos nas regiões metropolitanas, o que estimula a transferência de empresas e até de profissionais, também em busca de maior qualidade de vida. Além disso, destaca Pazzini, quase sempre há benefícios oferecidos pelas prefeituras, como incentivos fiscais e doações de terrenos, para atrair novos empreendimentos. "E a tendência é que o processo continue nos próximos anos", avalia.

Outra explicação para o crescimento mais acelerado do interior do Sudeste está na área do agronegócio. Conforme o estudo da Target, entre 2005 e 2010, o número de empresas no setor no Brasil cresceu 250,5%, ante 33,5% em média das companhias de todas as demais áreas.

Isoladamente, a quantidade de empresas do agronegócio no Sudeste teve alta de 338,1%. O número é ainda mais importante quando se leva em consideração somente as cidades do interior da Região (414,5%).

O levantamento da Target mostra outro diferencial da região: as faixas de renda mais alta, que têm maior potencial de consumo de produtos com maior valor agregado, tiveram crescimento mais acelerado. Na faixa B1, com renda de R$ 5.350, o alta foi de 150,6%. A média nacional ficou em 149,5%.

Também nesse caso o crescimento foi menor nas regiões metropolitanas (145,4%) do que no interior (158,9%). Nas regiões metropolitanas do Sudeste, o crescimento do potencial de consumo foi mais relevante nas faixas do topo da pirâmide de renda, A1 e A2.

Na média geral do Sudeste, a faixa A1 cresceu 35,3% ante 36,1% na média nacional. Nas áreas metropolitanas, a alta foi de 42%, enquanto o interior atingiu apenas 22,6%. Na A2, os números ficaram muito próximos no País (76,3%) e no geral do Sudeste (76,2%), enquanto, nas regiões metropolitanas, o índice foi de 79,3%. No interior, cresceu 71,3%.

O estudo da Target apontou que o crescimento da renda causou uma forte redução no País na classificação de consumo apontada como classe E, a mais baixa de todas. A queda foi de 32,7% entre 2005 e 2010. No Sudeste, onde os programas de transferência de renda não têm o mesmo impacto das regiões mais pobres, a redução foi de 23,1%.




Crescimento impõe ação integrada, diz Hartung

Para governador do ES, é preciso investir em logística e formação de mão de obra
11 de junho de 2010

Paulo Fortuna - Especial para O Estado de S.Paulo

O aumento dos investimentos no setor petrolífero, por causa da exploração do pré-sal, somado aos projetos do setor de siderurgia, representa uma grande oportunidade de desenvolvimento para os Estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo, mas também trará uma série de desafios para o poder público e o setor privado, principalmente na área de logística. A avaliação é do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB). "Precisamos de uma articulação para tornar viável a expansão dos negócios relacionados a logística, aço e petróleo, numa ação conjunta que contemple demandas na área de investimentos, prestação de serviços, oferta de bens e formação e distribuição de mão de obra qualificada", diz Hartung.

Segundo o governador, há uma grande demanda para a utilização da logística litorânea - utilização de portos para escoamento da produção - pelo setor siderúrgico, que crescerá de modo intenso em razão do desenvolvimento da indústria de petróleo.

"Hoje, 90% da produção nacional de petróleo está concentrada nos Estados do Rio de Janeiro (80%) e Espírito Santo (10%) e, com o pré-sal, ao longo dos próximos 20 ou 30 anos, os três Estados litorâneos do Sudeste concentrarão pelo menos 95% da produção de óleo e gás natural do País", afirma.

"Há uma pressão por utilização de faixas litorâneas para instalação de estaleiros, construção/reparo/manutenção de plataformas, unidades de processamento de óleo e gás e produção de fertilizantes", ressalta Hartung. Ele avalia que uma saída é promover sinergias na área de logística entre os dois setores.

"É necessário desenvolver uma logística compartilhada entre esses setores, otimizando custos, trazendo ganhos de produtividade e reservando espaços nobres para a preservação e ampliação da qualidade de vida", diz o governador. Ele destaca que os setores de petróleo e siderurgia têm em comum a grande demanda por mão de obra especializada. Em muitos casos, ocorre até uma competição inter-setorial pelos profissionais.

Ele sugere como alternativa integrar o planejamento e qualificação, com a criação de Programa de Mobilização da Indústria de Petróleo e Gás Natural estendido, semelhante ao que existe no Espírito Santo.

Hartung acrescenta que esses investimentos causarão um profundo impacto nas cidades da faixa litorânea do Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, o que exigirá ações do poder público e da iniciativa privada. "Essa migração para o litoral exige um olhar atento em razão das consequências socioeconômicas e ambientais. As cidades precisam ser replanejadas ou reinventadas."

O governador destaca que na Região Sudeste já há projetos de operações integradas em andamento, como no Polo de Ubu, em Anchieta, no litoral sul do Espírito Santo. Outro exemplo, na área de celulose, é a instalação de um terminal da Petrobrás para transporte de gás liquefeito de petróleo (GLP) no Porto de Barra do Riacho (ES).

No Rio de Janeiro, o Porto de Açu, do grupo EBX, além de ter terminais para a exportação de minério de ferro também pode ser a sede de uma unidade de processamento de petróleo extraído na Bacia de Campos.

O governador ressalta que as demandas por novos investimentos impõem uma agenda urgente de investimentos no setor de logística, onde há carências no Estado. "É grave o problema do Aeroporto de Vitória, que funciona basicamente nas mesmas condições de sua construção. As BRs 101 e 102 precisam de ampliação. O tradicional Porto de Vitória, responsável pela movimentação de contêineres, espera obras urgentes de dragagem e derrocagem de seu canal de evolução", afirma Hartung.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Usuário de cartão ganha novas facilidades

Paulo Fortuna, para o Valor, de São Paulo
09/06/2010

O cliente de uma grande rede de varejo, após finalizar sua compra, assiste a um vídeo em alta definição acoplado à maquininha processadora de cartões, em que é informado do início de uma nova liquidação na próxima semana. O consumidor também pode receber um aviso na própria fatura do cartão, depois de pagar a conta, de que terá direito a uma refeição grátis na próxima vez em que voltar ao seu restaurante preferido. Estas são algumas das possibilidades tecnológicas que estão chegando ao mercado brasileiro e que devem ser decisivas na disputa pelo setor de credenciamento de cartões a partir de julho, quando as duas grandes companhias que detêm 90% das transações no País, a Cielo (ex-Visanet) e a Redecard, vão ampliar o número de bandeiras. A Redecard, que hoje trabalha com cartões como Mastercard e Diners, também vai operar com Visa. A Cielo, em contrapartida, após o final do contrato de exclusividade com a Visa, agregará ao seu portfólio novas bandeiras, como a Mastercard.

“A questão tecnológica é absolutamente decisiva neste mercado”, diz o presidente da Redecard, Roberto Medeiros. O executivo acrescenta que a tecnologia aplicada à mobilidade no uso de cartões deve ser um fator chave na expansão do setor. É a mesma avaliação do diretor de Produtos da Cielo, Rogério Signorini, que também destaca as possibilidades abertas para a área de cartões com as ferramentas disponíveis na internet. As duas grandes credenciadoras do País vêm apostando, por exemplo, no desenvolvimento de sistemas que possibilitem a aceitação de cartões com a utilização de celulares. De acordo com Signorini, é uma facilidade que atinge públicos como os vendedores autônomos que atuam boa parte do tempo na rua, entre os quais as representantes de produtos de cosméticos. Para usar o sistema, basicamente o vendedor só precisa digitar em um celular habilitado o número do cartão de crédito do cliente. A princípio, esse produto é mais voltado para vendas com tíquete médio mais baixo, mas Medeiros exemplifica casos em que a tecnologia pode ser usada por companhias que trabalhem com maior valor agregado, como as que entregam cimento em obras com caminhões betoneira.

As empresas do setor também investem na expansão do chamado pagamento sem contato.
Um desses sistemas permite que qualquer telefone que tenha entrada para cartões de memória possa ser usado pelo consumidor como um dispositivo para fazer pagamentos. Um exemplo é um projeto-piloto desenvolvido pela Cielo com o banco Bradesco. Ou que o consumidor pague sua conta com apenas um toque no cartão, usando um terminal especial, eliminando a necessidade de procurar dinheiro no bolso ou passar o plástico na maquininha. Segundo Roberto Medeiros, o sistema vem sendo testado pela Redecard em pontos como o bondinho do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro.
O diretor de Produtos da Cielo destaca que as novas tecnologias devem estreitar a relação entre os estabelecimentos comerciais e os usuários de cartões. Um exemplo é a plataforma da companhia que permite ao comerciante realizar algum tipo de promoção no ato da compra com o plástico. “Um cliente que completou, por exemplo, dois anos de uso de um cartão pode receber um desconto na hora da compra, que será informado no próprio comprovante. Ou um restaurante pode premiar um cliente que complete um certo número de refeições”, exemplifica o executivo, “É um instrumento de fidelização do estabelecimento com sua clientela”, destaca. Segundo Signorini, a plataforma tem como vantagem o fato do comerciante poder usar o mesmo equipamento habitual, sem custos adicionais.

Também na linha de otimizar o uso das maquininhas de cartões, a Redecard desenvolveu um sistema que une varejo e marketing. A tecnologia permite que os comerciantes divulguem seus próprios vídeos promocionais, em telas de alta definição, acopladas aos terminais de cartões da credenciadora. “Dessa forma, a empresa pode, por exemplo, anunciar ao cliente uma nova liquidação no próprio ato da compra”, conta Medeiros.

Anacristina Lugli, diretora de Projetos e Meios de Pagamento da CSU, a maior processadora independente de cartões de crédito no País, concorda que a questão tecnológica pode ser decisiva para o mercado no momento de quebra de exclusividade nas bandeiras. “Para os novos players que chegarem ao mercado, será muito importante garantir a disponibilidade do sistema e de planos de contingência que ofereçam segurança às operações”, diz a executiva.

De olho no possível aumento de mercado, a companhia investiu R$ 30 milhões no desenvolvimento de plataforma voltada à prestação de serviços de processamento para as empresas que desejarem atuar no mercado de credenciamento de cartões. Entre as inovações, Anacristina destacou a criação de tecnologias voltadas para “consumidores especiais”, ou seja, portadores de algum tipo de deficiência. A CSU está desenvolvendo um sistema de impressão em braile que permite a leitura de uma fatura de cartão por deficientes visuais.