segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Impacto do saneamento é expressivo sobre a produtividade do trabalhador

Paulo Fortuna
Para o Valor, de São Paulo

A expansão dos investimentos em área saneamento básico no Brasil pode causar um impacto importante em toda a economia no País de forma direta, na geração de empregos e novos negócios, e indiretamente, com ganhos de produtividade dos trabalhadores. É o que apontam estudos realizados pelo Núcleo de Economia Industrial e da Tecnologia (Neit), do Instituto de Economia (IE) da Unicamp, e pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) e o Instituto Trata Brasil.

O estudo realizado pela Unicamp, encomendando pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), maior empresa do gênero no País, apontou que para R$ 1 bilhão investido no segmento, seriam gerados 42 mil empregos, R$ 1,6 bilhão de valor da produção, R$ 800 milhões de valor agregado e R$ 76 milhões em impostos diretos e indiretos. Com os investimentos previstos nas duas fases do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC 1 e 2), da ordem de R$ 85 milhões, poderiam ser gerados quase 2 milhões de empregos, entre temporários – principalmente na construção civil – e permanentes.

De acordo com o estudo, a área de saneamento básico movimenta hoje R$ 20 bilhões o que representa 0,59% do valor agregado total da economia nacional. Mesmo com todo o déficit no setor, o resultado é superior ao de países desenvolvidos comparados pelos pesquisadores, como Japão, Reino Unido, Bélgica, Alemanha e Itália, onde a média ficou em 0,26%.

Segundo um dos coordenadores da pesquisa, o economista Fernando Sarti, esses números mostram que, a despeito dos investimentos públicos,grande parte das empresas do setor têm capacidade de investimento e de obter financiamentos para novos projetos. “Se analisarmos os números das empresas mais rentáveis do setor, podemos observar um grande retorno sobre o capital, o que demonstra a capacidade de investimento do setor”, afirma ele.

Para o pesquisador, no entanto, os novos investimentos no setor devem levar em conta um cenário de longo prazo, em que infraestrutura acompanhe o crescimento da demanda e que isso não encareça excessivamente o valor das tarifas.

O presidente da Trata Brasil, André Castro, ressalta que o investimento em saneamento básico deve em conta todos os resultados para a economia do País. O estudo “Benefícios Econômicos da Expansão do Saneamento Brasileiro, da Trata Brasil e da FGV-SP, aponta que o custo anual estimado em horas pagas e não trabalhadas por conta de doenças relacionadas à falta de esgotamento sanitário é de R$ 547 milhões.

Já considerados os demais fatores que interferem na frequência de afastamentos, a probabilidade de uma pessoa com acesso à rede de coleta de esgoto se afastar das atividades por qualquer motivo é 6,5% menor que a de um trabalhador com acesso a essa infra-estrutura, aponta a análise. No caso de afastamento por diarréia, a diferença é ainda maior: de 19,2%. O acesso universal à rede, conforme o estudo, faria esse custo cair para R$ 238 milhões por ano.

O estudo, feito com base em informações do Pesquisa Nacional de Pesquisa por Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), apontou que os trabalhadores com acesso à coleta de esgoto ganham salários, em média, 13,3% superiores aos daqueles que moram em locais sem coleta. A diferença considera o efeito parcial do esgoto sobre a produtividade e aponta que a universalização da rede de esgoto poderia provocar um ganho de renda na mesma proporção. Caso esse ganho de produtividade fosse incorporado ao total da massa salarial do País, que hoje é de R$ 1,1 trilhão, seria de 3,9%, atingindo R$ 41,5 bilhões ao ano.

“Melhorar a saúde e produtividade dos trabalhadores é fundamental num momento num momento em que o Brasil procura ser mais competitivo no mercado global”, diz Castro

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