terça-feira, 11 de setembro de 2012

À espera do melhor momento para o IPO


Por Paulo Fortuna
Para o Valor Financeiro Capitalização de Empresas


O mercado está em compasso de espera para a retomada de Ofertas Públicas Iniciais (IPOs, na sigla em inglês) na bolsa brasileira. Companhias prontas para estrear na Bolsa adiam as ofertas enquanto não há um sinal mais claro de recuperação do cenário de instabilidade e volatilidade, impulsionado principalmente pela crise na Europa. A expectativa é que, com esse quadro de incerteza e risco, os preços das ações possam sofrer um desconto excessivo ou, pior ainda, os IPOs fracassarem por falta de investidores interessados.


“Hoje, de 10 a 20 empresas estão prontas para fazer um IPO no Brasil, esperando uma janela de oportunidade”, afirma o diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados de Capitais (Anbima), Márcio Guedes. Para ele, essas empresas estão adiando as ofertas porque não querem sofrer o “desconto” que o mercado impõe nessas condições, em que ações podem sair por um preço menor do que os emissores avaliam ou atingiriam valores maiores numa situação mais favorável.


Guedes ressalta que o cenário internacional tem sido decisivo para aversão ao risco na bolsa brasileira, ressaltando que 2/3 dos investidores que participam de IPOs no Brasil são do exterior. “Com a crise lá fora, os investidores internacionais ficam reticentes e o Brasil acaba sendo afetado, explica Guedes, lembrando que as bolsas de todo o mundo estão sofrendo com a crise.
Além disso, lembra o diretor da Anbima, há um outro fator importante para desestimular novas IPOs neste momento: os preços das ações negociados na bolsa brasileira têm um desconto elevado, o que leva os investidores a buscarem essas oportunidades, ao invés de correrem o risco de um IPO. “Na medida em que os preços se ajustarem, o cenário pode ficar melhor para a retomada das ofertas”, diz o diretor da Anbima.


O analista-chefe da Corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, avalia que dificilmente este cenário  de incerteza será dissipado ao longo de 2012, por conta dos efeitos da crise na zona do Euro e das suas consequências para o restante da economia mundial.
Vieira destacou outro fator complicador do cenário neste ano: a megaoferta do Facebook, que rendeu US$ 16 bilhões, a maior da história das empresas de internet,  acabou decepcionando os investidores quando as ações começaram a despencar após a estreia na Nasdaq; De acordo com ele, o tombo do Facebook ajudou a acrescentar ainda mais desconfiança no mercado, reduzindo o apetitide dos investidores internacionais.


Por isso, Vieira acredita que o volume de IPOs deve continuar bem modesto. “Se houver uma recuperação, será em novembro ou dezembro”, afirma ele. “Neste momento, por conta do cenário de instabilidade e volatilidade,  os analistas podem precificar a empresa abaixo do que seria o seu valor real”, lembra ele. O analista também acredita que há empresas que já estejam preparadas para realizar seus IPOs em 2013 ou 2014, caso as condições mercado melhorem. 
Para o sócio líder de Mercados Estratégicos da Ernst & Young Terco, André Viola Ferreira, a queda nas taxas de juros básicos promovida seguidamente pelo Banco Central (BC), a princípio deveria estimular os investimentos em renda variável, como a própria Bolsa, impulsionando o lançamento de novas ofertas. Mas o cenário externo tem se sobressaído. “Os 2/3 de investidores externos que poderiam participar e neste momento estão reticentes  são relevantes para reduzir o volume de novas ofertas”, ressalta ele.


Ferreira destaca que, mesmo diante de uma conjuntura menos favorável, há alternativas para as empresas terem melhores resultados nos IPOs. “Melhor governança e um plano de negócios robusto são dois fatores que podem contribuir para valorizar as ações da companhia numa oferta”, afirma Ferreira.
O sócio-líder de Global IFRS and Offerings Services  da Deloitte, Bruche Mescher, diz que “a palavra do momento é volatilidade”, se referindo aos efeitos da crise externa nas bolsas, mas avalia que, no caso do Brasil, os fundamentos da economia continuam positivos e há boas perspectivas de que empresas rertomem os IPOs.


Mescher destaca que as empresas ligadas ao setor de infraestrutura, por exemplo, vão ter que captar recursos para financiar seus projetos que exigem grandes investimentos e terão maturação no longo prazo.         

O sócio de Auditoria da Delloite, Alexandre Cassini, acrescenta que a realização de IPOs ainda é uma melhores alternativas que as empresas possuem para buscarem recursos para novos investimentos. Estudo realizado pela Deloitte  aponta inclusive que o  custo para realização de uma oferta pública de ações no Brasil vem caindo nos últimos anos.Se em 2005,  ele representava 5,1% do valor da operação, esse percentual caiu para 3,4% em 2011.


O movimento aconteceu tanto pelo aumento do número de bancos que atuam nesse mercado - o que eleva a concorrência - como pelo aumento do tíquete médio das ofertas, o que dilui custos fixos.Na média ponderada do período de sete anos, apurada com base em 214 transações realizadas, o custo para a empresa ficou em 3,7% do valor das ofertas. Em termos financeiros, isso representa um gasto de R$ 31,4 milhões.
Ofertas inferiores a R$ 200 milhões tiveram custo médio de R$ 9,2  milhões, equivalentes 5,6% da captação, enquanto as operações maiores, de R$ 1 bilhão a R$ 9 bilhões, saíram por R$ 56,7 milhões, ou 3,5% do total.


O volume de IPOs em 2012 está bem distante das previsões do início do ano realizadas pela própria BM&FBOVESPA, que apontavam entre 40 e 45 operações ao longo do ano. Foram realizados somente quatro ofertas públicas iniciais na Bolsa brasileira: o banco de investimentos BTG Pactual, a locadora de veículos Locamerica, o fabricante de móveis Unicasa e a Taesa, empresa do segmento de transmissão de energia da Cemig. No ano passado, foram 11 ofertas.


Em 2007, o melhor ano da história da Bolsa, 64 companhias brasileiras abriram capital, entre elas Tecnisa, JBS, Marfrig, MRV e Sul­América. Em meio à janela de oportunidades muitas empresas não operacionais na época também entraram no mercado, como a MPX Energia, do grupo EBX do  empresário Eike Batista, Brazilian Group Hospilaty (BGH), e Agrenco. No total, as ofertas geraram  R$ 45 bilhões. Mas já no ano seguinte, o mercado começou a sentir os efeitos da crise financeira internacional.
O IPO realizado pela Locamerica, em abril, que movimentou R$ 313,9 milhões, quebrou um jejum de nove meses sem ofertas no mercado brasileiro. A oferta acabou saindo a R$ 9,00 a ação, abaixo do intervalo de preço sugerido no prospecto preliminar da operação, de R$11,00 a R$ 14,00.


A maior oferta foi a do BTG Pactual, realizada no mesmo mês, que contemplou 117 milhões de units ao preço de R$ 31,25 cada uma, o que totalizou uma captação de R$ 3,6 bilhões para o banco de investimentos. A operação ficou no centro da faixa fixada pelos coordenadores da oferta, de R$ 28,75 a R$ 33,75. A transação atraiu 170 grandes investidores, o que garantiu demanda três vezes superior à oferta. Mas quantidade vendida ficou abaixo dos 121,5 milhões de unidades que BTG Pactual e parceiros ofereciam na operação.
O bom resultado do IPO foi atribuído à confiança no mercado de bons resultados do banco, aliado ao prestígio de seu principal acionista, André Esteves. Foi a maior oferta inicial do mercado acionário brasileiro em quase três anos, desde os R$ 14 bilhões levantados por outro banco, o Santander Brasil em outubro de 2009. E também conseguiu ficar entre as 10 maiores ofertas Bovespa desde 2004, classificado como ano da reabertura dos mercados, ocupando sétimo lugar na lista.


A Unicasa também estreou na bolsa em abril, captando R$ 425,6 milhões em sua oferta, o que poderia indicar uma retomada de IPOs no Brasil. Cada papel ordinário da companhia, que controla as marcas Dell Anno e Favorita, saiu  a R$ 14,00, abaixo da faixa de preço estimada pela empresa em seu prospecto, que variava entre R$ 16,50 e R$ 20,50.
A CCX, empresa do grupo EBX que atua no setor de mineração e carvão na Colômbia, que ainda está em fase pré-operacional, estrou na bolsa em maio, mas sem a realização de IPO, já que foi desmembrada da MPX. 

Mas o cenário ainda nebuloso voltou a inibir o mercado e somente em julho a Taesa realizou uma oferta, levantando R$ 1,75 bilhão. A unit foi foi precificada em R$ 65,00, dentro da faixa estimada no prospecto da operação, de R$ 60,00 a R$ 70,00.


Em contrapartida, empresas como Brasil Travel, Seabras, CVC, Biosev, Manabi desistiram ao longo do ano de fazer ofertas na BM&FBovespa.. No caso da Biosev, braço sucroenergético da trading francesa Louis Dreyfus Commodities, foi adiado por  tempo indeterminado a sua oferta pública inicial de ações.
Antes do cancelamento, em julho. havia um risco de que transação pudesse não ser concluída por falta de demanda dos investidores. O preço dos papéis da Biosev chegou a ser rebaixado para R$ 13,00, segundo fonte, cifra 21% inferior ao piso da faixa inicialmente sugerida, de R$ 16,50 a R$ 20,50.


A justificativa da Biosev para a postergação do IPO foram as "incertezas no mercado financeiro". "Foi feito um roadshow pelo Brasil, Europa e Estados Unidos. Estamos confiantes de que quando o cenário econômico se restabelecer, novas oportunidades surgirão para a concretização do nosso IPO", explicou o presidente do conselho da Biosev, Kenneth Geld, por meio de nota.


Os mesmo cenário foi alegado pela mineradora Manabi ao cancelar o pedido de análise para a sua oferta inicial no Brasil e no Canadá. De acordo com a empresa, operação foi descartada “devido às incertezas econômicas apresentadas no mercado financeiro brasileiro e internacional nos últimos meses, desfavoráveis à realização da oferta global”.

No caso da Seabras, foram dois adiamentos, em fevereiro e abril. No primeiro, a companhia norueguesa da área de petróleo Seadrill, que controla a Seabras, alegou que precisava de mais tempo para fazer a oferta. Na segundo, ao anunciar a desistência, a empresa alegou que estava  “avaliando várias oportunidades para aumentar as atividades antes de fazer a listagem".


O presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais em São Paulo (Apimec-SP), Reginaldo Alexandre, ressalta que lançar ações num momento não favorável do mercado pode fazer com que as captações fiquem muito aquém do que desejavam no planejamento da oferta. “É como vender um carro logo após a redução de IPI”, compara Alexandre.
Ele ressalta que, além disso, uma oferta fracassada representa riscos de imagem tanto para a companhia que tentou realizar um IPO, quando para os bancos coordenadores do IPO. Para ele, um processo recuperação no volume de IPOs no mercado brasileiro passa por duas variáveis: economia local e mercado internacional.  De acordo com ele, embora o cenário externo seja determinante, uma retomada no nível de atividade na economia brasileira pode ser um fator de estímulo para a retomada das ofertas.


“Quem se arriscar agora, vai deixar um pedaço na mesa”, concorda o analista-chefe de investimentos da corretora SLW, Pedro Galdi. O analista também acha difícil que o mercado mostre recuperação no curto prazo, dependendo de uma série de notícias que voltem a criar uma “espiral positiva”.
O presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (AMEC)  Mauro Rodrigues da Cunha, acrescenta que ainda há um fator extra que desestimula as empresas a realizarem ofertas públicas no Brasil: os empréstimos oferecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com juros menores do que os praticados no mercado financeiro. “É um fator inibidor para o mercado de capitais no Brasil, já que as companhias que tem acesso ao BNDES preferem recorrer aos empréstimos do que lançar ações no bolsa”, afirma Cunha.

O fechamento de capital pode ser uma saída adotada por empresas que estão apresentando resultados ruins na Bolsa, um fator que pode ser acelerado pelo cenário de instabilidade que afeta os mercados globais. Mas não é uma regra que serve para todos os casos no qual o controlador decide tomar a medida, segundo avaliam especialistas do setor de mercado de capitais.



O sócio-líder de Global IFRS and Offerings Services  da Deloitte, Bruche Mescher, ressalta que existem várias razões para que as empresas optem pelo fechamento de capital, conforme a estratégia adotada pelo controlador. Mas, num momento de ações em baixa, pode ser vantagem fechar o capital, sobretudo se os preços dos papeis estiverem atraentes em relação ao valor real presumido da empresa. Ele lembra ainda que há custos operacionais para manter uma empresa com capital aberto, que podem não compensar se o desempenho na Bolsa não for satisfatório.
“Cada empresa tem um histórico e uma motivação para fechar o capital, mas se as ações estiverem muito baratas, pode ser uma boa oportunidade para a companhia recomprar os papeis, concorda Márcio Guedes, diretor da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados de Capitais (Anbima).
Neste ano, grandes empresas como Redecard, Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI) e Net deram início a processos de saída do Novo Mercado, nível máximo de governança corporativa da bolsa, e posterior oferta pública para fechamento de capital. Em,julho, foi a vez da LLX. A Net, entretanto, acabou desistindo do processo.
É o caso do fechamento de capital da LLX, braço logístico do Grupo EBX, de Eike Batista, a decisão pode ser interpretada como uma resposta ao movimento de desvalorização das ações da companhia, avalia o analista da Infinity Asset, Henri Evrard. De acordo com ele, ao retirar as ações do mercado, a LLX sinaliza que não vai precisar desse tipo de recurso para sustentar os  investimentos nos seus projetos, que estão em fase pré-operacional. A empresa foi listada no Novo Mercado da BM&FBOVESPA  em julho de 2008.


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