terça-feira, 5 de junho de 2012

Redução de custo reforça o potencial dos ventos


Por Paulo Fortuna
Para o Valor, de São Paulo 

A energia eólica deixou de ser considerada uma fonte alternativa e cara no Brasil, onde há um cenário de franca expansão dessa matriz energética, que é apontada como uma das mais limpas. Aliada às condições climáticas favoráveis, principalmente no Nordeste e no Sul do País, a redução dos custos de produção tornou o setor atraente não apenas para as empresas que geram energia, mas também para os grandes fabricantes globais de equipamentos eólicos, que encontram no Brasil um mercado mais promissor do que outros consolidados, como a Europa Ocidental.
“A energia eólica está inserida definitivamente na matriz enérgica brasileira”, afirma a presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Melo. Para a executiva, a questão ambiental (com o crescimento do uso de energias renováveis), as condições favoráveis para o uso da energia dos ventos no Brasil e o fator econômico, com o barateamento dos projetos eólicos, foram decisivos para a consolidação do quadro positivo do setor no País.
A presidente da Abeeólica ressalta que os os investimentos em tecnologia fizerem com os preços dos equipamentos fossem reduzidos. Além disso, lembra ela, a conjuntura internacional de desaquecimento econômico, em especial na Europa, provocaram cortes de projetos de expansão e de subsídios no setor de energias renováveis. Resultado: ociosidade no parque mundial de fabricantes e a consequente pressão de redução nos preços.
“Em 2004, a o custo de geração de cada MWh era de R$ 6,4 milhões, enquanto que atualmente é de R$ 3,4 milhões, o que tornou a expansão do setor economicamente viável”, destaca a executiva. Ela ressalta que hoje as diferenças de custos da eólica em relação à energia hidrelétrica, que anteriormente eram grandes, foram reduzidas ao longo dos últimos anos. Em 2005, o megawatt-hora (MWh) eólico custou R$ 306, em 2011 o MWh chegou a R$ 102, preço próximo ao da fonte hídrica.
Entre 2005 e 2011, dos 64 mil MW contratados nos leilões de energia, 10% desse total, ou 6.750 MW, se referem a projetos eólicos. Em 2005, Brasil detinha dez usinas eólicas de 28 MW. Nesse ano estão em operação cerca de 1500 MW, sendo que 1200 MW estão em construção e outros 6000 MW em contratos, devendo entrar em operação até 2016, de acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Energética (EPE).  
Conforme a presidente da Abeéolica, com esses investimentos, a expectativa do setor é que a participação da energia eólica na matriz energética brasileira salte dos atuais 1,4% para 5% do total em 2014, quando todos os parque eólicos que estão em fase de implantação já estiverem operando. A meta, segundo ela, é manter a contratação de 2 mil megawatts (MW) anualmente.
“O Brasil tem hoje uma dos menores custos do mundo de geração de energia eólica”, aponta o diretor do Centro Brasileiro de Energia e Mudanças Climáticas (CBEM),  o pesquisador Osvaldo Soliano Pereira. Ele lembra que há outro fator importante para promover a expansão da energia eólica no Brasil: as restrições cada vez maiores que os grandes projetos hídricos no que se refere à questão ambiental. “Há uma dificuldade crescentes nos licenciamentos ambientais dos grandes projetos de hidrelétricas, o que favorece o uso de outras energias renováveis, como a eólica”, ressalta Pereira.
De acordo com dados de dezembro de 2010, o Brasil ocupa a 21º posição em termos de capacidade instalada de energia eólica.  O lider do ranking é a China e em seguida vêm os Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Índia. Mas o Brasil deve ganhar várias posições rapidamente, já que perde somente para China e a Índia no ritmo de expansão de energia eólica, afirma Elbia.
O Brasil também está entre os países mais atraentes do mundo para a realização de novos investimentos no setor. De acordo com o estudo  “Renewable energy country attractiveness indices”, publicado em maio último pela Ernst & Young Terco, o Brasil ocupa a 11ª entre os países mais atraentes nesta área, cinco posições acima do mesmo período do ano passado e uma posição abaixo do levantamento feito no trimestre anterior. “Houve uma variação suave em relação ao trimestre anterior, mas isso não significa que a médio e a longo prazo o cenário deixou de ser muito  positivo para a energia eólica no País”, afirma Luiz Claudio Campos, sócio de Transações da Ernst & Young Terco.
De acordo com Campos, a variação trimestral ocorreu por conta do adiamento de junho para agosto do leilão de energia produzida por fontes renováveis (biomassa, eólica e pequenas centrais hidrelétricas) e do atraso do início da produção de alguns projetos de parques eólicos no País. Ele ressalta, entretanto, que hoje o Brasil se tornou um polo de atração para produtores de equipamentos para o setor. Por conta do cenário turbulento na Europa, aliado ao bom momento do Brasil nesta área, os fabricantes aceitam taxas de retorno menores em seus investimentos, contribuindo para reduzir os custos de produção locais, destaca o sócio da Ernst & Young Terco.
Há uma série de novos investimentos programados para a produção de equipamentos eólicos no Brasil. A empresa alemã Fuhrländer , por exemplo, iniciou a construção de uma fábrica de aerogeradores na cidade de Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza, no Ceará. A fábrica tem um investimento previsto de R$ 15 milhões em sua primeira fase. Se for ampliada, a unidade poderá receber aportes de mais R$ 30 milhões. A previsão da Führlander é  começar a produzir no início de 2013.
No mesmo estado, a dinamarquesa Vestas está iniciando a produção de sua fábrica localizada na cidade de Maracanaú. Com investimento de R$ 28,4 milhões,.é a primeira unidade da empresa na América Latina.  A divisão de energia da companhia americana GE também assinou um protocolo de intenções com o governo da Bahia para instalar uma fábrica de turbinas para a geração de energia eólica, com investimentos ao redor de R$ 45 milhões.
A argentina Impsa, um dos maiores grupos do setor elétrico na América Latina, também aposta na expansão do mercado brasileiro, com a construção de duas novas unidades industriais voltadas à produção de equipamentos para  energia eólica  e a ampliação de outra já em operação. Além das condições de mercado, o vice-presidente da operação brasileira da Impsa, José Luiz Menghini, avalia que marco regulatório da energia no País também criou um cenário favorável para novos negócios na área. “O bom momento do mercado támbém é resultado do processo de transparência que ocorreu nos leilões de energia eólica”, afirma ele.
Menghini ressalta que a empresa tem desenvolvido tecnologia no Brasil e que a América Latina está se tornando um polo tecnológico para o setor eólico.  

“Os engenheiros latino-americanos não devem nada aos da Europa. Ao  contrário, eles têm que ser muito mais criativos. Além disso, você tem que desenvolver uma tecnologia de acordo com condições locais. As condições dos ventos são diferentes no Nordeste, no Rio Grande do Sul, na Patagônia ou na Europa”, explica ele. 

Uma  nova unidade da Impsa, com capacidade para instalar 140 aerogeradores por ano  será instalada no Rio Grande do Sul, em cidade ainda a ser definida. De acordo com o vice-presidente da operação brasileira,  a planta deve ser inaugurada em 2013. O investimento inicial é de R$ 100 milhões e pode chegar a R$ 175 milhões.

A empresa também projeta a mplatação de outra unidade, que ficará encarregada da chamada eletrônica de potência, os dispositivos de processamento, conversão e controle de geradores. O local ainda não foi definido. Já  atual unidade de aerogeradores de Suape receberá entre R$ 45 e R$ 50 milhões em  equipamentos e infraestrutura. 

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