Por Paulo Fortuna
Para o Valor, de São Paulo
A
energia eólica deixou de ser considerada uma fonte alternativa e cara no
Brasil, onde há um cenário de franca expansão dessa matriz energética, que é
apontada como uma das mais limpas. Aliada às condições climáticas favoráveis,
principalmente no Nordeste e no Sul do País, a redução dos custos de produção
tornou o setor atraente não apenas para as empresas que geram energia, mas
também para os grandes fabricantes globais de equipamentos eólicos, que
encontram no Brasil um mercado mais promissor do que outros consolidados, como
a Europa Ocidental.
“A
energia eólica está inserida definitivamente na matriz enérgica brasileira”,
afirma a presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica
(Abeeólica), Elbia Melo. Para a executiva, a questão ambiental (com o
crescimento do uso de energias renováveis), as condições favoráveis para o uso
da energia dos ventos no Brasil e o fator econômico, com o barateamento dos
projetos eólicos, foram decisivos para a consolidação do quadro positivo do
setor no País.
A
presidente da Abeeólica ressalta que os os investimentos em tecnologia fizerem
com os preços dos equipamentos fossem reduzidos. Além disso, lembra ela, a
conjuntura internacional de desaquecimento econômico, em especial na Europa, provocaram
cortes de projetos de expansão e de subsídios no setor de energias renováveis. Resultado:
ociosidade no parque mundial de fabricantes e a consequente pressão de redução
nos preços.
“Em
2004, a o custo de geração de cada MWh era de R$ 6,4 milhões, enquanto que
atualmente é de R$ 3,4 milhões, o que tornou a expansão do setor economicamente
viável”, destaca a executiva. Ela ressalta que hoje as diferenças de custos da
eólica em relação à energia hidrelétrica, que anteriormente eram grandes, foram
reduzidas ao longo dos últimos anos. Em 2005, o megawatt-hora (MWh) eólico
custou R$ 306, em 2011 o MWh chegou a R$ 102, preço próximo ao da fonte
hídrica.
Entre
2005 e 2011, dos 64 mil MW contratados nos leilões de energia, 10% desse total,
ou 6.750 MW, se referem a projetos eólicos. Em 2005, Brasil detinha dez usinas
eólicas de 28 MW. Nesse ano estão em operação cerca de 1500 MW, sendo que 1200
MW estão em construção e outros 6000 MW em contratos, devendo entrar em
operação até 2016, de acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa
Energética (EPE).
Conforme
a presidente da Abeéolica, com esses investimentos, a expectativa do setor é
que a participação da energia eólica na matriz energética brasileira salte dos
atuais 1,4% para 5% do total em 2014, quando todos os parque eólicos que estão
em fase de implantação já estiverem operando. A meta, segundo ela, é manter a
contratação de 2 mil megawatts (MW) anualmente.
“O
Brasil tem hoje uma dos menores custos do mundo de geração de energia eólica”,
aponta o diretor do Centro Brasileiro de Energia e Mudanças Climáticas (CBEM), o pesquisador Osvaldo Soliano Pereira. Ele lembra
que há outro fator importante para promover a expansão da energia eólica no
Brasil: as restrições cada vez maiores que os grandes projetos hídricos no que
se refere à questão ambiental. “Há uma dificuldade crescentes nos
licenciamentos ambientais dos grandes projetos de hidrelétricas, o que favorece
o uso de outras energias renováveis, como a eólica”, ressalta Pereira.
De acordo com dados de dezembro de 2010, o Brasil ocupa a 21º posição em
termos de capacidade instalada de energia eólica. O lider do ranking é a China e em seguida vêm os
Estados Unidos, Alemanha, Espanha e Índia. Mas o Brasil deve ganhar várias
posições rapidamente, já que perde somente para China e a Índia no ritmo de
expansão de energia eólica, afirma Elbia.
O Brasil
também está entre os países mais atraentes do mundo para a realização de novos
investimentos no setor. De acordo com o estudo
“Renewable energy country attractiveness indices”,
publicado em maio último pela Ernst & Young Terco, o Brasil ocupa a 11ª
entre os países mais atraentes nesta área, cinco posições acima do mesmo
período do ano passado e uma posição abaixo do levantamento feito no trimestre
anterior. “Houve uma variação suave em relação ao trimestre anterior, mas isso
não significa que a médio e a longo prazo o cenário deixou de ser muito positivo para a energia eólica no País”,
afirma Luiz Claudio Campos, sócio de Transações da Ernst & Young Terco.
De acordo com Campos, a variação trimestral ocorreu por conta do
adiamento de junho para agosto do leilão de energia produzida por fontes renováveis
(biomassa, eólica e pequenas centrais hidrelétricas) e do atraso do início da
produção de alguns projetos de parques eólicos no País. Ele ressalta,
entretanto, que hoje o Brasil se tornou um polo de atração para produtores de
equipamentos para o setor. Por conta do cenário turbulento na Europa, aliado ao
bom momento do Brasil nesta área, os fabricantes aceitam taxas de retorno
menores em seus investimentos, contribuindo para reduzir os custos de produção
locais, destaca o sócio da Ernst & Young Terco.
Há uma série de novos investimentos programados para a produção de equipamentos
eólicos no Brasil. A empresa alemã Fuhrländer , por exemplo, iniciou a construção de
uma fábrica de aerogeradores na cidade de Caucaia, na região metropolitana de
Fortaleza, no Ceará. A fábrica tem um investimento previsto de R$ 15 milhões em
sua primeira fase. Se for ampliada, a unidade poderá receber aportes de mais R$
30 milhões. A previsão da Führlander é começar
a produzir no início de 2013.
No mesmo estado, a dinamarquesa Vestas está iniciando a produção
de sua fábrica localizada na cidade de Maracanaú. Com investimento de R$ 28,4
milhões,.é a primeira unidade da empresa na América Latina. A divisão de energia da companhia
americana GE também assinou um protocolo de intenções com o governo da Bahia
para instalar uma fábrica de turbinas para a geração de energia eólica, com
investimentos ao redor de R$ 45 milhões.
A argentina Impsa, um dos maiores grupos do setor elétrico na América
Latina, também aposta na expansão do mercado brasileiro, com a construção de
duas novas unidades industriais voltadas à produção de equipamentos para energia eólica e a ampliação de outra já em operação. Além
das condições de mercado, o vice-presidente da operação brasileira da Impsa,
José Luiz Menghini, avalia que marco regulatório da energia no País também criou
um cenário favorável para novos negócios na área. “O bom momento do mercado
támbém é resultado do processo de transparência que ocorreu nos leilões de
energia eólica”, afirma ele.
Menghini ressalta que a empresa tem desenvolvido tecnologia no Brasil e
que a América Latina está se tornando um polo tecnológico para o setor eólico.
“Os engenheiros latino-americanos não devem
nada aos da Europa. Ao contrário, eles têm
que ser muito mais criativos. Além disso, você tem que desenvolver uma
tecnologia de acordo com condições locais. As condições dos ventos são
diferentes no Nordeste, no Rio Grande do Sul, na Patagônia ou na Europa”,
explica ele.
Uma nova unidade da Impsa, com
capacidade para instalar 140 aerogeradores por ano será instalada no Rio Grande do Sul, em
cidade ainda a ser definida. De acordo com o vice-presidente da operação
brasileira, a planta deve ser inaugurada
em 2013. O investimento inicial é de R$ 100 milhões e pode chegar a R$ 175
milhões.
A empresa também projeta a mplatação de outra unidade,
que ficará encarregada da chamada eletrônica de potência, os dispositivos de
processamento, conversão e controle de geradores. O local ainda não foi
definido. Já atual unidade de
aerogeradores de Suape receberá entre R$ 45 e R$ 50 milhões em equipamentos e infraestrutura.
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