segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A formação de uma rede

Por Paulo Fortuna
Revista Conselhos
Publicação da Fecomércio-SP

Mercado financeiro sólido, estabilidade política e econômica, respeito aos marcos regulatórios e taxas de crescimento acima da média global. Ingredientes como esses fazem com que a América Latina tenha tudo para promover uma rede de negócios integrada, e com o Brasil, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, funcionando como o polo catalizador dessa integração. O cenário consta do primeiro relatório divulgado em dezembro pelo Brain (Brasil Investimentos e Negócios), entidade que tem entre seus integrantes a Fecomercio-SP. A divulgação do documento ocorreu na sede da entidade, na capital paulista.

O diretor-presidente do Brain, Paulo Oliveira, destaca que quadro desenhado na economia da região mostra que é possível mudar a situação atual em que grande parte das operações financeiras executadas por empresas latino-americanas se dão fora do continente, em praças como Nova York ou Londres, gerando custos adicionais e à redução das oportunidades de negócios locais. “A América Latina tem a oportunidade de configurar uma verdade rede multipolar, distanciando-se do modelo atual, radial, em que todos os polos locais dependem diretamente dos serviços oferecidos pelo grande polos globais”, afirma Oliveira.

Ele ressalta que os benefícios de uma maior integração extrapolam os limites do mercado financeiro e devem se estender a diversos setores da economia.
O executivo acrescenta que a formação de uma rede de negócios regional pode
beneficiar em especial as pequenas e médias empresas que, de outra forma, não teriam acesso ao mercado internacional.

O presidente da Fecomércio-SP, Abram Szajman, ressalta que a iniciativa do Brain pode contribuir para que, preenhendo essa lacuna no ambiente de negócios da região, São Paulo e Rio de Janeiro possam representar o mesmo que Hong Kong e Cingapura significam para a Ásia: o centro de uma região interconectada com conexões globais otimizadas com os demais centros financeiros regionais.

Szajman lembra que, em relação ao tamanho de sua economia, hoje a 8ª do mundo, o Brasil ainda tem uma participação modesta no fluxo comercial global. “A participação do País no comércio internacional está muito abaixo de nossas necessidades e potencialidades”, afirma o presidente da entidade.

O relatório do Brain destaca que a economia regional, diferentemente do que ocorria décadas atrás, a América Latina apresenta um grau de estabilidade propício para o desenvolvimento de novos negócios. O documento destaca que cinco países da região (Brasil, Chile, México, Colômbia e Peru) já receberam grau de investimento e que, em meio à crise financeira global, os bancos do continente permaneceram sólidos, apresentando níveis de capitalização e liquidez para enfrentar grandes desafios financeiros. Além disso, operam dentro de marcos regulatórios reconhecidamente melhor desenhados para evitar crises.

O crescimentos das economias latino-americanas acima da média global e dos países mais ricos e o fortalecimento dos mercados locais também são pontos destacados no relatório do Brain. O PIB combinado da América Latina é de US$ 3,5 trilhões, comparável ao da China e superior ao da Rússia, Índia e o Leste Europeu.

O Brasil é destaque por mercado interno em franca expansão, impulsionado pelo aumento de renda e pela ascenção de chamada “nova classe média” e por sua posição cada vez mais relevante no comércio internacional. Mas, destaca o documento do Brain, o País pode ir mais além. A Brain identifica três alavancas de oportunidade para que o Brasil continue expandindo seu posicionamento: crescimento ininterrupto do mercado local, apoiado pelo estímulo ao aumento de sua competitividade; reforço e a ampliação das conexões regionais dentro da própria América Latina; desenvolvimento de projeção e conexões globais.

Segundo Paulo Oliveira, em abril próximo o Brain deve divulgar um estudo sobre como a legislação dos mercados dos países da América Latina podem ser harmonizados, facilitando o processo de integração.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que participou do lançamento do relatório da Brain, ressaltou que a combinação do crescimento sustentável com estabilidade econômica são fatores essenciais para o Brasil ter se tornado um polo preferencial de investimentos. Meirelles lembrou o País só conseguiu atingir esse patamar porque tomou medidas, ao longo dos últimos, para se precaver das crises financeiras.

Também há obstáculos a serem superados tanto pelo Brasil quanto pela América Latina para que seja implantada uma rede de negócios integrada. No documento,
a Brain destacou que os avanços passam pela criação de sistemas de pagamentos interligados, como ocorre no norte da Europa, e na formação de um mercado de capitais regional mais representativo e forte do que as bolsas locais individuais.

Outros desafios serão melhorar a malha aérea da região, que é pouco densa, e desenvolver uma infraestrutura mais integrada de transportes e de comunicação.
O Brain ainda destacou a necessidade dos países latino-americanos reforçarem os esforços para simplificar e harmonizar suas regulações. No caso brasileiro, as principais barreiras dizem respeito ao sistema tributário complexo, a excessiva burocracia e a disponibilidade limitada de profissionais em alguns setores essenciais.

Guilhermo Larrain, ex-superintentende de Valores, Seguros e Pensões do Chile e atualmente consultor da Brain destacou que a economia brasileira ainda é relativamente fechada ao mercado internacional e, justamente por isso, há grande possibilidade de aumentar a integração com outros países da América Latina. Larrian ressaltou que há um grande interesse do setor privado em avançar numa rede de negócios na região, até mais do que os governos locais. “O interesse das empresas são de um prazo muito mais longo do que o dos governos”, destacou Larrain.

Oliveira também avalia que já há uma grande disposição das empresas da região em estimular a integração regional, com a criação das multilatinas, multinacionais formadas com capital majoritariamente local com grande presença regional e internacional. “Uma rede regional mais forte na América Latina será fundamental para potencializar o crescimento local e garantir para as empresas condições favoráveis para se expandirem e se internacionalizarem”, diz. Ele lembra, por exemplo, o recente anúncio da fusão das operações da brasileira TAM e da chilena Lan, que possibilitará a criação de uma gigante regional no setor de aviação.

A integração da região também está evoluindo para o mercado de capitais. Em dezembro, foi assinado o acordo de cooperação com a bolsa chileno, Segundo o diretor presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, o acordo prevê uma parceria na qual a bolsa brasileira contribuirá na promoção de iniciativas para fomentar o mercado local. Segundo o dirigente, que esteve presente à divulgação do relatório do Brain, o acordo pode evoluir para que papéis listados no mercado chileno sejam negociados na BM&FBovespa e vice-versa.

Conforme Edemir Pinto, a tendência é que acordos semelhantes sejam fechados pela BM&Bovespa com outras bolsas em 2011. As próximas devem ser as da Colômbia e do Peru, que estão em processo de integração.

De acordo com o presidente da Fecomércio-SP, o estímulo ao mercado de capitais pode ter efeito sobre toda a atividade econômica do País e da América Latina. “Acreditamos que a Brain pode e deve ter uma conseqüência semelhante ao que ocorre quando uma grande pedra é lançada no centro de um lago: seus efeitos vão muito além do impacto inicial – neste caso, o mercado de capitais – espalhando-se por ondas que movimentam toda a superfície da atividade econômica.

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