sexta-feira, 21 de maio de 2010

O remédio amargo da regulação financeira


A histeria dos mercados - agora, por conta da Europa - tem sido tema frequente deste blog. Na última postagem, descrevemos alguns dos argumentos dados pelo mercado para o sobe e, principalmente, desce das bolsas, inclusive no Brasil. O temor de que o pacote de ajuda financeira à Grecia não seja suficiente para impedir que a crise se alastre para toda a Europa é o fator mais citado, mas nos últimos dias alguns integrantes do mercado vieram com uma explicação adicional um tanto inusitada: há muita preocupação com as medidas tomadas pelo governo da Alemanha para ampliar a regulação do setor financeiro. Agora, como isso pode ser tão ruim é uma explicação que só mesmo o tal mercado, se é que isso é possível, pode oferecer.

Nesta semana, a Alemanha, por meio da agência reguladora do setor de serviço financeiros BaFin, decidiu proibir provisoriamente as vendas a descoberto e swaps de crédito a descoberto de bônus dos governos da zona do euro. A decisão foi unilateral
e, de fato, deu passo concreto na direção das restrições às operações financeiras. Por ser uniteral, a decisão foi riticada por membros do Banco Central Europeu, que avaliam que a chanceler deveria ter consultado outros parceiros da União Europeia.

É plausível acreditar que a chanceler alemã devesse ter consultado seus parceiros de UE, olhando pelo viés da democracia, mas também é razoável acreditar que a liderança
da maior economia da Europa e 3ª do mundo tenha se cansado de esperar por um consenso para aumentar a regulação dos mercados. Afinal, até quando é possível esperar por uma decisão ? É será que tal medida em caráter global vai sair ? Após muita conversa jogada fora, é pouco provável.

Merkel disse que na próxima reunião dos G-20 (o encontro das nações ricas e em desenvolvimento), que acontecerá em junho, vai estimular a introdução de uma taxa internacional para aumentar a rigidez sobre as ações do mercado financeiro. Segundo ela, taxação deve ser aplicada também nos países não atingidos pela crise. A chanceler reafirmou a importância de todos os países mandarem ao mercado "uma mensagem de força" sobre a opção pela maior rigidez regulatória do setor financeiro, pois a população espera medidas efetivas após ver bilhões direcionados ao socorro dos bancos. Em tempo: Merkel é uma política formada na centro-direita alemã e, portanto, não propõe uma regulação mais rígida por ideologia. Trata-se de realismo.

O mercado tem todo o direito de ficar preocupado com medidas que, em última instância, reduzem a sua margem de ação. Mas será que não se trata de um desses remédios amargos, aplicados contra a vontade do paciente, mas fundamental para sua cura ? Ou as lições de dois anos atrás foram esquecidas e o problema verdadeiro são as irresponsabilidades fiscais cometidas por governos como o da Grécia ? Oras...

Em tempo, nesta sexta-feira, após mais de uma semana de quedas, os mercados retomaram o bom humor, com as possibilidades de novas medidas de ajuda ao euro. Curiosamente, a Alemanha é novamente apontada como "culpada". Uma das casas do parlamento alemão aprovou a participação, e repasse de verbas, para o pacote de 750 bilhões de euros, acordado entre União Europeia e FMI para defender o euro. A proposta ainda precisa ser aprovada pelos demais legisladores alemães.

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